Opinião
As alianças da aliança
O PS já percebeu que a aproximação do BE à sua governação lhe vai roubar votos ao centro: o povo suburbano, o português conservador e arrumadinho, os empregados que gostam da "normalidade" da vida e das instituições, não percebem a agitação ideológica permanente trotskista do BE.
A FRASE...
"Jerónimo de Sousa diz que o PS sempre governou 'à direita' e por isso recorre ao PSD e CDS para as 'questões estruturais'."
Público, 5 de Setembro de 2018
A ANÁLISE...
A razão de o PS ser o partido de charneira deste regime político, e confundir-se com este - ainda que saibamos que este regime nos criou sucessivos desaires orçamentais por pretender ser campeão do Estado social sem ter riqueza para isso - está espelhado na frase de Jerónimo de Sousa. Usam-se um ao outro em conveniência e conivência subliminar: quando o centro-direita e a direita vão para o poder, o PS acicata o PCP para irem para a rua minar a estabilidade governativa da direita. Quando o PS está no poder, o PCP acusa-o de ser fantoche da direita, ameaça com o quartel-general sindical, mas as suas tropas não saem à rua, porque sabem que a seu tempo as concessões serão feitas nos Orçamentos de Estado desta vida. Entretanto, a direita bem comportada (PSD do centrão) aprova com o PS o que a esquerda não quer engolir.
O BE como não tem operários, mas sim homens e mulheres ilustradas, escreve e inunda as redes sociais e media com o palavreado das questões civilizacionais, desviando o debate para o comportamento das direitas europeias e americanas para as refletir nas portuguesas, propositadamente confundindo as raízes de umas e outras, sabendo que nunca serão iguais, por razões históricas e culturais. O PS já percebeu que a aproximação do BE à sua governação lhe vai roubar votos ao centro: o povo suburbano, o português conservador e arrumadinho, os empregados que gostam da "normalidade" da vida e das instituições, não percebem a agitação ideológica permanente trotskista do BE.
Neste cenário de esquerdização oscilante do país, sempre com o PS no centro - em abono da verdade bem desenhado por Mário Soares (que muito admiro por nos ter livrado na Fonte Luminosa da deriva comunista no país) - e rigorosamente aplicado pelos sucessivos governos socialistas, só permite que o centro-direita se afirme quando alguém a "federaliza" naturalmente sem ambições ideológicas e sem pronunciar a palavra "direita". Até que isso aconteça, é bom que a direita e o centro-direita se habituem à sua própria fragmentação: afinal não estão unidos, pois não sabem como podem sair desde círculo vicioso.
Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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