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15 de Maio de 2017 às 20:41

A anestesia

A sociedade pós-austeridade permitiu criar as políticas públicas descomprimidas e descontraídas, mas desviou-nos para sermos mais ricos (mais produtivos) e convergir com a Europa rica.

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A FRASE...

 

"É penoso constatar que os pequenos países da União Europeia parecem ser países de segunda (enteados) desta Zona Euro."

 

Ricardo Cabral, Público, 15 de Maio de 2017

 

A ANÁLISE...

 

Anova normalidade do país é, avaliando pela tranquilidade noticiosa, de ação e de debate públicos, uma anestesia coletiva. Hoje os portugueses apenas se comprometem para proteger os seus rendimentos económicos atuais (a tratar da vidinha…), fazendo com que se tramem os do futuro. Um país de elites e povo que momentaneamente sufragam políticas públicas egoístas, mas reclamam altruísmo europeu, para não ter de lidar com as escolhas que fizemos de estar na Europa e no euro. Ainda bem que, em França, apareceu uma Le Pen: criou o Macron realista que a Europa e França precisam.

 

Entretanto, vibramos com os santos acontecimentos no burgo (Fátima, futebol e Eurovisão) que nos devolvem o orgulho de parecermos grandes num mundo dos excecionalmente grandes e mais ricos. Aí não somos enteados.

 

Para quê debater o futuro se, no presente, tudo parece correr bem? Não é apenas a coligação que suporta o Governo que promove anestésicos. São as pessoas que pedem a eliminação de dor, e não querem ouvir falar desta. E porquê?

 

Já ninguém entra numa disputa para convergir com a Europa dos ricos (deixa lá ver se nos mantemos e eles mudam…). Somos um país à espera da evolução da frente externa, mas não sabemos como nos vamos proteger geracionalmente dos desaires que daí possam advir. O euro e as suas regras são um sofrimento (viver sem nos endividarmos). "Vade retro" a reforma do Estado social: seria uma dor incomportável para quem já não tem idade para mudar. O sofrimento orçamental do Estado social é mascarado com um debate sobre a dívida. A precariedade do crescimento económico e dos baixos salários da sazonalidade turística é abafada por um debate sobre a integração dos precários na função pública.

 

A sociedade pós-austeridade permitiu criar as políticas públicas descomprimidas e descontraídas, mas desviou-nos para sermos mais ricos (mais produtivos) e convergir com a Europa rica.

 

Artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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