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22 de Junho de 2020 às 20:30

Um país irreformável?

A composição política do atual regime democrático, acompanhada pela aquiescência do Presidente da República perante a ausência de mudanças, torna estrutural o inexorável empobrecimento coletivo de Portugal.

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A FRASE...

 

"Inscrições nos centros de emprego estão a crescer 21% em junho."

Negócios, 22 de junho de 2020

 

A ANÁLISE...

 

Esta recessão mundial foi desenhada pelos governos - "recession by design" - não seguindo o modelo das do passado. Uma das naturais consequências será uma intervenção do Estado sem precedentes na economia, talvez comparável à crise de 1929 e à que se seguiu no rescaldo da II Guerra Mundial. Os Estados criaram desequilíbrios e disfunções na economia e sociedade e a sua intervenção fará nascer outros. Devemos ser vigilantes, por isso, quer sobre a própria intervenção, quer sobre os seus efeitos, difíceis de escrutinar, mas não impossíveis de prever.

 

Com base nas medidas já lançadas de lay-off, nas propostas da Comissão Europeia, nas de preservação do emprego, nas moratórias obrigatórias, nas de natureza fiscal e contribuições sociais, podemos concluir que atendem prioritariamente à manutenção de liquidez, alívio de tesouraria das empresas, e preservação do rendimento do trabalho, mas distantes da reconstituição do capital perdido. Paralelamente, ao não se iniciar um debate sobre medidas extraordinárias de flexibilização laboral e salarial, é de prever que a destruição de capital financeiro e organizativo nas empresas será significativa.

 

O número de empresas (PME) em Portugal cifrou-se em 1.294.037 no final de 2018, e o mais baixo numa década foi de 1.085.894 (2012), uma destruição empresarial de aproximadamente 210.000 empresas. Com base na informação constante da Central de Balanços do Banco de Portugal de 2018, esta diminuição resultaria numa perda de aproximadamente 736.000 empregos, usando o indicador médio de empregados por micro e pequenas empresas. O volume de ativos que seria afetado estimar-se-ia em 33 mil milhões de euros. Considerando a proverbial cultura antiempresa, a ajuda às micro e pequenas empresas centrar-se-á na preservação de emprego, quando se poderia aproveitar esta crise para darmos saltos quantitativos no VAB por trabalhador que se concentra nas médias e grandes empresas, e assim caminharmos para uma economia de mais elevados salários. O tempo irá revelar a fragilidade da sociedade portuguesa e o errado modelo empresarial. A composição política do atual regime democrático, acompanhada pela aquiescência do Presidente da República perante a ausência de mudanças, torna estrutural o inexorável empobrecimento coletivo de Portugal.

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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