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03 de Novembro de 2020 às 18:05

Medidas tímidas agravam a pandemia

A produção de vacinas para um número suficientemente alargado de pessoas que permita parar a pandemia não será rápida, pelo que não se exclui uma terceira vaga antes de a vacina chegar a todos.

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Ricardo Araújo Pereira chamou, e bem, à atenção no seu último programa televisivo para o ridículo de algumas medidas tomadas no fim-de-semana pelo Governo.

 

Por um lado apela-se a ficar em casa, mas abrem-se exceções para ir trabalhar em autocarros e comboios apinhados, para partilhar com os colegas durante 8 ou 9 horas escritórios esconsos ou fábricas não arejadas, para ir às compras até às 22h, para ir ao restaurante até às 22h30m, para ir ao banco, para ir ao teatro e até para se encontrar com os amigos desde que o número não ultrapasse os cinco ou seis. Vai funcionar? Só com um milagre.

 

A enorme queda do PIB provocada pela primeira vaga da pandemia na Alemanha, os custos para os orçamentos públicos do financiamento do confinamento, os montante elevados dos fundos necessário à retoma, a superior gestão da crise pandémica na China e noutros países asiáticos, levou a Alemanha e por arrasto a União Europeia e Portugal a procurar encontrar um equilibro entre medidas sanitárias e manutenção da economia em funcionamento.

 

A experiência desta segunda vaga tem mostrado que essa estratégia não funciona. As medidas tímidas que vêm sendo tomadas a conta-gotas não têm qualquer efeito e os contágios progridem, os hospitais enchem-se, as camas de cuidados intensivos esgotam-se. Um após outro, os sistemas de saúde europeus colapsam e milhares de pessoas morrem.

 

Portugal que fez um confinamento muito parcial na primeira vaga, mantendo muitas indústrias em funcionamento incluindo a construção civil, nunca conseguiu uma baixa significativa das infeções.

 

Por outro lado o SNS não foi suficientemente reforçado, ao contrário do que aconteceu noutros países, pelo que a segunda vaga, que por outras paragens tem sido menos mortal, por cá vai a caminho de ser muito mais mortífera (quer em doentes com covid quer em doentes sem covid mas que morrem devido à incapacidade do SNS, assoberbado com os doentes covid, de os tratar).

 

A incapacidade de combater eficazmente a pandemia vai a par com o aumento dos seus custos económicos. As medidas paliativas não resolvem os problemas mas geram custos, custos que serão mais prolongados e desta vez, até agora sem apoios significativos.

 

Finalmente paira no ar a forte possibilidade de esta estratégia de equilibro, ou equilibrista, falhar e os governos terem de avançar com confinamentos rigorosos. Quem quererá investir em tal situação. A retoma vai ficando cada vez mais longínqua.

 

Existem sete mil milhões de seres humanos na Terra. A produção de vacinas para um número suficientemente alargado de pessoas que permita parar a pandemia não será rápida, pelo que não se exclui uma terceira vaga antes de a vacina chegar a todos. Estamos pois a falar de um período que pode ocupar todo o ano de 2021.

 

À medida que os países do centro da Europa recuperarem assistiremos, se nada for feito de relevo, a uma emigração de portugueses para esses países.

 

Mais uma vez ficaremos para trás, por não termos o rasgo e a ousadia de seguir o nosso próprio caminho.

 

Economista

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