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26 de Janeiro de 2021 às 20:12

Legitimidade. Que legitimidade?

A economia esvai-se em sucessivos meios confinamentos e medidas restritivas ineficazes, o rácio da dívida dispara e o risco de nova intervenção externa aumenta, mas nunca os candidatos sobre tal falaram.

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A democracia portuguesa saiu muito enfraquecida de mais uma campanha eleitoral organizada de forma deficiente e sem verdadeiro debate de ideias que pudesse empolgar e mobilizar a sociedade para os desafios que vai enfrentar.

 

O sistema de saúde colapsa mas isso não foi tema de conversa, apenas alvo de vagas declarações sem conteúdo prático sobre o quão imprescindível e formidável é o SNS. A pandemia mata mais em Portugal do que em qualquer outro canto do mundo, mas isso não impede os candidatos de nunca o referir. A economia esvai-se em sucessivos meios confinamentos e medidas restritivas ineficazes, o rácio da dívida dispara e o risco de nova intervenção externa aumenta, mas nunca os candidatos sobre tal falaram.

 

A corrupção ameaça engolir os avultados fundos estatais europeus destinados à recuperação económica mas isso não aflige os candidatos, que sobre o assunto não refletiram um segundo.

 

O número de pessoas na fila da sopa dos pobres cresce todos os dias mas esse é tema tabu. O racismo fustiga diariamente as comunidades racializadas mas é como se não existisse e fossem os que dele se defendem os criminosos.

 

Em plena pandemia o voto por correspondência não foi generalizado, como por exemplo o foi nos Estados Unidos, impedindo muitos de exercer o seu direito. Longas filas para votar significam mais infetados e mais mortos como aconteceu também nos EUA onde os partidários de Trump se recusaram a votar pelo correio e preferiram o método presencial. Esta deficiente organização também passou sem discussão.

 

Nada, pois, do que é verdadeiramente importante para o Futuro do nosso país foi debatido pelos principais candidatos. Nada. Aliás o principal candidato preferiu fazer uma campanha muda, dizendo o mínimo possível e aproveitando ao máximo para surgir a toda a hora em todos os canais de televisão.

 

O candidato da extrema-direita, por seu lado, foi levado ao colo por parte significativa da comunicação social, ao ponto de ser ele a definir a agenda temática da campanha. O que fez apelando aos instintos mais retrógrados e ao ódio mais criminoso de certas camadas da população, referidas como as "pessoas de bem".

 

Em consequência da sua votação a configuração tradicional da direita, dividida entre PSD e CDS desaparece e emerge uma extrema-direita racista e inimiga da democracia ocidental.

 

Perante este tipo de campanha eleitoral a esmagadora maioria dos portugueses, quase dois terços, afastou-se, e virando as costas absteve-se.

 

Assim o candidato mais votado, Marcelo Rebelo de Sousa, recolhe apenas uns magros 33% do voto dos eleitores. É eleito à primeira volta como se tivesse uma grande maioria e entronado em Belém para mais quatro anos de presidência, quando apenas recolheu sensivelmente um terço dos votos possíveis!

 

Enquanto a democracia definha, com os portugueses cada vez mais arredados e alheados da discussão dos seus reais problemas, políticos com escassa legitimidade eleitoral continuam alegremente a encaminhar o nosso país para os últimos lugares dos rankings europeus e mundiais.

 

Economista

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