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11 de Janeiro de 2017 às 12:16

Gestão de produtos obsoletos

Pode um taxista passar a ser um acompanhante no interior de um veículo automaticamente conduzido providenciando companhia, segurança, apoio e informação turística? Ou deverá concentrar-se noutra atividade?

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Muitos produtos envelhecem e tornam-se obsoletos. Obsoletos não quer dizer que desapareçam da nossa vista ou deixem de ser comercializados. Obsoleto pretende tão-somente significar que existem outros tecnologicamente mais avançados e eventualmente mais baratos e eficientes que desempenham a mesma função.

 

Todos sabemos que a carroça como meio de transporte de mercadorias está obsoleta, mas é óbvio que algumas ainda percorrem as nossas ruas com as suas cargas e que noutros países também circulem com muita utilidade.

 

Um produto ou um serviço obsoleto pode ser um drama para quem o produz ou oferece ou pode ser uma oportunidade de fazer crescer o negócio e explorar novos trilhos. Tudo depende de como encarar a obsolescência.

 

No caso de muitos produtos é possível planear e gerir a sua fase de obsolescência.

 

Desde logo é importante que o novo produto que vem substituir o anterior seja também da nossa empresa. Tal só se consegue através de investimento constante em investigação e desenvolvimento.

 

Se o novo produto for da nossa empresa, podemos adotar uma estratégia de introdução adequada ao mercado e ao novo papel do anterior produto que continuará a ter mercado, embora menor e diferente, durante algum tempo e cujos clientes precisarão durante anos de assistência e/ou de peças. Veja-se o caso da indústria automóvel ou da indústria farmacêutica que com a sua cíclica modernização da oferta tornam os seus próprios produtos obsoletos. Afinaram já estratégias muito eficazes de obsolescência faseada e controlada para os produtos que comercializam.

 

O drama de muitas empresas portuguesas que não investiram na investigação no momento certo é serem surpreendidas com a introdução por empresas rivais de produtos que tornam a sua oferta obsoleta. Que fazer então?

 

Impõe-se então uma retirada estratégica de certos mercados e a aposta nos nichos que sempre permanecem. Vejamos, por exemplo, os mapas das estradas. O facto de hoje um simples telefone ou iPad suportar uma aplicação que com recurso ao GPS nos indica o caminho mais curto entre dois locais tornou obsoleto o mapa físico em papel. Mas ele continua a vender-se. O mercado contraiu-se e alterou-se, mas não desapareceu. É possível, com uma estratégia inteligente, sobreviver durante anos no novo ambiente. Naturalmente, a longo prazo essa sobrevivência é problemática. O tempo extra deve ser usado para recuperar o atraso perdido, apostando em investigação para que o próximo salto tecnológico possa vir da nossa empresa e não mais uma vez dos rivais.

 

Muitas vezes esse planeamento da obsolescência deve ser social e não só empresarial. Nas próximas décadas, assistiremos à emergência dos veículos sem condutor. Quais as implicações desta alteração? Que fazer das pessoas cuja profissão é conduzir ou pilotar veículos? Como podem continuar a ser úteis à sociedade? Pode um taxista passar a ser um acompanhante no interior de um veículo automaticamente conduzido providenciando companhia, segurança, apoio e informação turística? Ou deverá concentrar-se noutra atividade?

 

A mensagem é que a obsolescência é uma fase do ciclo de vida dos produtos como outra qualquer, devendo ser abordada de um ponto de vista de gestão que permita obter o máximo de valor económico e social de produtos que pela lei da vida vão sendo ultrapassados tecnologicamente. Não é o fim, pode ser um começo noutra direção.

 

O pânico, a desistência e a reação a quente, muito comuns nestas ocasiões, não permitem uma gestão profissional da obsolescência do produto, uma situação cada vez mais comum num mundo em acelerada mudança.

 

Economista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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