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15 de Setembro de 2020 às 16:38

Gás americano: uma grande oportunidade perdida

Os Estados Unidos são hoje o maior produtor mundial de gás natural. A via principal de exportação é ainda através de gasoduto, sendo naturalmente os principais destinos os dois países vizinhos: o Canadá e o México.

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Mas também exporta gás liquefeito por diversas vias: camião ou por barco. Por barco os destinos são variados desde a América Latina à Europa e mesmo para a Ásia.

  

Quando a exportação de gás liquefeito americano começou a ganhar volume, essencialmente a partir de 2015, alguns políticos portugueses conceberam a ideia de transformar Sines num porto de chegada do gás que seria depois distribuído pela Europa através de rede de gasodutos. Sem um estudo sério que suportasse tal ideia, que mostrasse as vantagens em termos de custo, rapidez de distribuição e de segurança, a ideia foi marinando sem que nada fosse feito. Ao mesmo tempo as exportações americanas de gás subiram exponencialmente – de 28 mil milhões de metros cúbicos em 2015 atingiram 1,819 mil milhões de metros no ano passado.

 

Na Europa, que importa 70% das suas necessidades, os principais compradores deste gás são a França, a Itália, a Holanda, a Espanha e o Reino Unido. Portugal também compra quantidades significativas. O primeiro carregamento de gás natural liquefeito (LNG) dos EUA para a Europa ocorreu em 2016. Hoje os Estados Unidos são já o terceiro maior fornecedor de LNG da Europa, depois do Catar e da Nigéria, com uma quota de mais de 12% do mercado. Uma conquista de mercado a ritmo alucinante. Que vai continuar.

 

Mas por onde entra o gás com destino à Europa? Quais os países melhor posicionados? Desde logo a Espanha, o país com mais e melhor equipados terminais de gás, o Reino Unido e a França. A Espanha tem operacionais os terminais de Barcelona, Huelva, Cartagena, Bilbao, Mugardos (na Corunha), El Musel (na cidade de Gijón) e Sagunto (perto de Valência). Ou seja tem já sete terminais capazes de reabastecimento, transbordo, carregamento de camiões e carregamento de combóis, que permitem ligar a outros países e mercados. E tem-nos quer na costa norte como na costa mediterrânica.

 

Só o porto de Barcelona tem uma capacidade de armazenamento duas vezes superior à de Sines e acolhe navios com maior capacidade de transporte.

  

Enquanto Portugal discutia e dormia, a Espanha fazia.

 

A França também se posicionou como placa giratória importando grandes quantidades que depois reexporta para a Suíça e a Itália.

 

Este avanço americano por barco tem como contrapartida perdas de outros países, nomeadamente os que abastecem a Europa por gasodutos como a Noruega, a Rússia e a Holanda.

 

A ideia de Portugal como ponto de entrada do gás americano na Europa, beneficiando da sua localização estratégica esfumou-se. Naturalmente o porto tem capacidade de se desenvolver e de ocupar um lugar secundário e marginal neste comércio. Mas não será já um dos portos principais deste novo e florescente mercado, como poderia ter sido.

  

Uma oportunidade perdida por falta de capacidade prospetiva de antecipar as oportunidades e de para elas se preparar. Todos os dias novas oportunidades surgem. Portugal muito tem a ganhar em desenvolver as suas capacidades nos Estudos de Prospectiva, um dos campos em que o país teima erradamente em não investir.

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