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Opinião
22 de Maio de 2013 às 00:01

Uma compra de emergência

O atraso no desenvolvimento de veículos aéreos não-tripulados, tal como de caças, é sintomático da falta de meios da "Agência Europeia de Defesa".

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Na mesma semana em que um porta-aviões norte-americano testava com êxito a descolagem de um caça furtivo não-tripulado, o governo francês anunciava ter obtido do Pentágono autorização para a compra urgente de veículos aéreos não-tripulados num manifesto exemplo da inferioridade tecnológica militar europeia. 


A descolagem de 13 de Maio ao largo da Virgínia, a que se seguirão testes de aterragem em porta-aviões, marca um assinalável avanço técnico para dotar a Marinha dos Estados Unidos de capacidade de reconhecimento e ataque com veículos aéreos não-tripulados de longo alcance.

O caça "X-47B", desenvolvido pela "Northrop Grumman", conta com dispositivos para escapar ou dificultar em extremo a detecção por radar – ao contrário dos "Predator" e "Reaper" em uso no Afeganistão, Paquistão e Iémen – e dispõe de uma autonomia de 2 mil milhas naúticas.

O veículo pode ser utilizado para reconhecimento e ataque e, a confirmar-se o seu potencial operacional, permitirá reduzir a vulnerabilidade da Marinha norte-americana a mísseis anti-navios de médio alcance.

Apesar dos óbices de uma crescente dependência de veículos aéreos não-tripulados e de robots em meio terrestre e aquático para acções de reconhecimento e combate, a superioridade tecnológica dos Estados Unidos apresenta presentemente inegáveis vantagens militares e políticas.

Veículos "Predator" norte-americanos baseados em Niamey, no Níger, fazem reconhecimento do terreno para as tropas francesas e africanas mobilizadas para a campanha militar no Mali.

Paris apenas dispõe no teatro de guerra de dois aparelhos "Harfang", da série entrada ao serviço em 2008 a partir de modelo israelita, com um raio de acção de mil quilómetros e velocidade máxima de 207 km/hora que, conforme reconheceu na semana passada o ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, não dão resposta às necessidades operacionais.

Le Drian, segundo revelou o jornal "Le Monde", obteve recentemente luz verde do Pentágono, aguardando autorização do Congresso de Washington, para compra de dois "Reaper MQ-9" para missões de reconhecimento no Mali, podendo Paris vir a adquirir até sete aparelhos num montante de 300 milhões de euros.

Os aparelhos, fabricados pela "General Atomics", atingem uma velocidade máxima de 483 km/hora, cobrem um raio de acção de 5 925 quilómetros, sendo a altitude operacional de 15 240 metros pretendendo Paris que entrem ao serviço no Mali até final deste ano.

O ministro francês reconheceu a urgência da aquisição, referindo que só os Estados Unidos e Israel surgem como potenciais fornecedores de veículos aéreos militares não-tripulados, e apelou à cooperação europeia na área da defesa.

O panorama apresenta-se, no entanto, desolador.

Projectos de desenvolvimento de veículos aéreos não-tripulados foram lançados pela "BAE" britânica e a "Dassault" francesa, por um lado, e o consórcio paneuropeu "EADS", por outro, com vista a dispor de um modelo próprio até ao final da década.

Ao contrário da aviação civil em que a "Airbus" se revelou um rival à altura da "Boeing" a partir da década de 70, na área militar a concorrência entre empresas francesas, britânicas, alemãs, espanholas e italianas tem vindo a dificultar a concretização de projectos comuns.

O atraso no desenvolvimento de veículos aéreos não-tripulados, tal como de caças, é sintomático da falta de meios da "Agência Europeia de Defesa" e, sobretudo, da escassa importância que os governos europeus atribuem à entidade que criaram em 2004 para cooperação das indústrias militares.

As urgências políticas e bélicas, acentuadas pelas crises no Maghreb e noutras regiões de África para onde estados europeus se vêem obrigados a mobilizar forças militares, enquanto os Estados Unidos se reservam um papel essencialmente de apoio logístico e operacional, põem a nu a fragilidade das capacidades bélicas de países com ambições de projecção de força como a França ou a Grã-Bretanha.

Desfasamento e atraso tecnológico reduzem a margem de manobra dos estados europeus e paradoxalmente podem até reforçar tendências do outro lado de Atlântico para um recurso desproporcionado à guerra por controlo remoto.

Por maiores vantagens que ofereça a guerra à distância os conflitos obrigam irremediavelmente à presença militar e à negociação política no terreno.

Que o digam as tropas franceses e nigerianas que ainda estão longe de conseguir controlar Kidal, no leste do Mali, de neutralizar grupos islamitas e negociar com milícias e partidos tuareges, bambara, fula e songhai para concretizarem uma eleição presidencial em Julho como primeiro passo para a busca de uma pacificação política.

Jornalista

barradas.joaocarlos@gmail.com

http://maneatsemper.blogspot.pt/

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