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João Carlos Barradas - Jornalista 10 de Janeiro de 2017 às 19:34

Trump e um chinês fixe

Donald Trump diz ter encontrado em Jack Ma um parceiro com quem irá "realizar grandes coisas em conjunto", mas o enleio público com o líder da Alibaba, o gigante chinês da economia digital, vai a par do receio de confronto comercial e político com Pequim. 

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Ma peregrinou até à Trump Tower e prometeu criar um milhão de empregos nos Estados Unidos nos próximos cinco anos ao possibilitar a pequenas e médias empresas acesso ao mercado chinês através das plataformas digitais da Alibaba.

 

Produtores agrícolas e empresas de vestuário do Midwest poderiam contar-se entre os principais beneficiados por vendas intermediadas pela Alibaba a mais de 300 milhões de consumidores da classe média na China, segundo Ma.

 

Seria o contributo do grupo, fundado em Hangzhou em 1999, para a dinamização da economia norte-americana, considerando que, actualmente, 40 milhões de postos de trabalho dependem das trocas com a China, de acordo com dados da Câmara de Comércio dos Estados Unidos. 

 

Polir a imagem da Alibaba nos Estados Unidos é essencial para Ma depois de a sua plataforma digital de vendas Taobao, a maior do mundo em língua chinesa, ter sido colocada em Dezembro, pela segunda vez, na lista negra pelo Departamento de Comércio.

 

Tal como sucedeu entre 2011 e 2012, a Taobao é acusada de permitir a venda em larga escala de produtos pirateados e violação de direitos de propriedade intelectual.

 

As plataformas AliExpress e Tmall para vendas nos mercados dos Estados Unidos, China, Taiwan, Hong Kong e Macau, por outro lado, só têm a perder com uma guerra comercial entre Washington e Pequim.

 

Falhanço certo teria, também, o plano de aumentar numa década de cerca de 10% para 40% o volume de negócios da Alibaba fora da China, sustentado por aquisições em segmentos diversos de media, entretenimento, electrónica, software, vendas a retalho, transportes, etc., que se cifraram em compras de 3,1 mil milhões usd nos Estados Unidos em 2016.

 

Cotada na bolsa de Nova Iorque desde Setembro de 2014, com uma IPO recorde de 25 mil milhões usd, a  Alibaba arrisca em múltiplas frentes.

 

O grupo liderado por Ma controla mais de 80% do comércio digital na China e tem em curso para o mercado interno uma estratégia de articulação com cadeias físicas de armazenamento, distribuição e venda a retalho.

 

A concretização de economias de escala e redução de custos operacionais graças à experiência do grupo na gestão de "stocks" e base de dados sobre clientela, partilha de informação e logística será, contudo, demorada.

 

A estratégia da Alibaba para o mercado chinês é conforme aos objectivos do governo de Pequim que visa ampliar o consumo interno e à orientação de Ma e seus associados que evitaram desde a primeira hora conflitos com o regime.

 

É, no entanto, uma incógnita saber até que ponto é compatível com a tutela comunista sobre a orientação estratégica de grandes empresas privadas a expansão da Alibaba - de estrutura accionista complexa que limita opções discricionárias do "grande empresário" com uma fortuna pessoal superior a 20 mil milhões usd e controlo de cerca de 6% do grupo - ao extravasar do comércio digital.

 

O que acontecerá quando dentro de pouco mais de um ano Trump vir défices orçamentais e comerciais a crescerem, o dólar e as taxas de juro a subirem, é outra incógnita.

 

Às ameaças de Trump de impor taxas aduaneiras de 45% por alegado "dumping", subsídios ilícitos comerciais e manipulação cambial, além da oposição professa às pretensões territoriais chinesas no mar do Sul da China, Pequim já retorquiu com desdém e demonstrações de força militar ainda que conte com menos trunfos do que alardeia.    

 

A sorte de Ma, o chinês fixe do momento, será a sina do que calhará aos demais no braço-de-ferro entre Trump e Xi Jinping.

 

Jornalista

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