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João Carlos Barradas - Jornalista 06 de Outubro de 2015 às 20:40

Marcelo, coligações & companhia

Marcelo Rebelo de Sousa alcançará a felicidade suprema de chegar a Belém num momento de forte turbulência política e caso não tropece nas suas próprias fintas terá um papel decisivo para assegurar uma maioria absoluta do centro-direita.

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O segundo Governo da coligação PSD/CDS parte com a vantagem de predominar a ideia entre decisores - e, talvez, em boa parte da opinião pública - da inevitabilidade de eleições antecipadas.      

 

Factores alheios à influência dos protagonistas portugueses - do aumento das taxas de juro norte-americanas à contracção da economia chinesa - vão, contudo, influenciar decisivamente as jogadas partidárias condicionadas por um quadro de crise da Zona Euro e da UE.

 

Por cá e por lá

 

As inevitáveis surpresas tanto comportam as consequências para a Autoeuropa (1,1% do PIB luso) das fraudes da Volkswagen como os imponderáveis do confronto entre a UE e Moscovo.

 

Em fundo avulta a crise estrutural do euro que terá novo ponto crítico quando chegar a altura de negociar um quarto resgate à Grécia, alargar prazos de pagamento de empréstimos e períodos de carência para reembolsos e baixar juros. 

 

Então, será altura de pesar a declaração de Vítor Constâncio, em entrevista no mês passado à Reuters, de que a hipótese de expulsão da Grécia da eurozona "nunca foi para levar a sério" por carência de base legal.

 

Pesadíssimo é, por certo, o custo para Portugal do afundamento do Brasil e Angola, agravando uma anemia comum à Zona Euro com previsões de crescimento nunca acima de 1,6% em 2016.

 

Do calendário do ano seguinte constam o referendo britânico sobre a manutenção na UE - se David Cameron não convocar a votação para 2016 - as eleições presidenciais francesas e as legislativas na Alemanha. 

 

Singelo contra dobrado

 

No Outono de 2016 talvez ainda seja cedo, mas na Primavera de 2017 possivelmente Passos Coelho tenderá a considerar eleições antecipadas.

 

O líder do PSD, se escapar à eventual tentação de concorrer sozinho em função das sondagens de conjuntura, poderá com Paulo Portas tentar armadilhar uma situação que leve o PS, com a obstinação do BE e do PCP, a recriar o cenário ideal da primeira maioria absoluta de Cavaco Silva em 1987. 

 

Entrará igualmente no cálculo a possibilidade de um PS que obste à queda de um governo minoritário, por acatar compromissos da UE, acabar penalizado à esquerda em eleições mais tardias.  

 

Por temer, como referiu no congresso do PSD do ano passado, um presidente "catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes", é de admitir que Passos Coelho tente, no entanto, jogar numa maioria absoluta assim que possível.

 

Um dos seus dramas passa por tentar vislumbrar o momento ideal em que Marcelo alinhe na jogada e o que o país tenha a ganhar com tudo isto logo se verá.       

 

A partilha das águas

 

Desta coligação minoritária poucos esperam, a julgar pelas apreciações dos meios europeus de negócios e imprensa, que pretenda negociar reformas de fundo seja do esquizóide sector da Justiça, da insustentável Segurança Social ou do enviesado  sistema eleitoral.

 

Convirá a Passos e a Portas navegarem à vista e têm tudo a ganhar com a arrastada implosão do principal partido da oposição.

 

Facções e tendências, ódios pessoais e grupais do PS vão digladiar-se em público nas campanhas de Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa e o partido terá, finalmente, de se confrontar com José Sócrates.

 

A dedução da acusação será discutida pela sua valia jurídica, mas implicará de imediato um juízo moral sobre a conduta do ex-secretário-geral e uma reconsideração da sua acção política.      

 

Mercearia fina

 

A partir daí para membros de anteriores executivos socialistas, quadros da administração pública e empresários arrolados para testemunhar em tribunal tudo muda de figura ainda antes de dar à costa o maremoto de revelações iníquas de Ricardo Salgado "et tutti quanti" noutra grande podridão do regime.

 

Quem venha a impor-se no congresso extraordinário do PS após as presidenciais de Janeiro terá de arrostar os passos do calvário e muito penará para tornar o partido como força alternativa credível sob os ataques do Bloco de Esquerda e do PC.

 

Passos e Portas dificilmente desperdiçarão uma oportunidade única para remeter o PS à irrelevância e, provavelmente, o mais difícil ainda será contar com Marcelo se o Presidente reverter à tentação de rodopiar, jogar e quadrilhar.

 

Jornalista

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