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26 de Julho de 2016 às 19:35

Hillary pé-de-chumbo

Hillary Clinton é uma péssima candidata e se não começar a subir significativamente nas sondagens após a convenção de Filadélfia, será cada vez mais difícil aos democratas fazerem frente a Donald Trump.

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Primeiro, a democrata terá de confirmar o tradicional aumento de intenções de voto a favor dos candidatos no período imediatamente posterior às convenções, tal como sucedeu com Trump ao ultrapassá-la apesar da desordenada gala republicana em Cleveland.

 

Segundo, e considerando a dimensão de uma eventual melhoria nas sondagens, haverá a considerar os ganhos entre o eleitorado branco não-hispânico.

 

A democrata congrega apenas 34% do voto neste segmento contra 56% para o republicano (CNN/ORC realizada entre 22 e 24 de Julho), antevendo-se a possibilidade de repetir-se algo similar ao resultado final de Obama contra Romney em que o senador de Illinois se quedou pelos 39% face a 59% ao antigo governador do Massachusetts.

 

A vitória do democrata em 2012 (51% vs. 47% no cômputo geral, com 26 estados e o distrito de Columbia, somando 332 votos no Colégio Eleitoral contra 206 do republicano) deveu-se ao triunfo por largas margens entre as demais raças, na terminologia norte-americana, ainda que os brancos representassem 72% do eleitorado.

 

Clinton fracassou até agora na captação do voto feminino jovem e à imagem do rival surge com índices elevadíssimos de rejeição e desconfiança que a podem prejudicar na mobilização em estados-chave se a participação se quedar abaixo dos 55% de 2012.

 

O efeito da escolha de Tim Kaine, na mira do voto hispânico e do eleitorado branco da Virginia (ganha por Mitt Romney/Paul Ryan em 2012) demonstra a extrema preocupação em tentar captar algum eleitorado centrista.

 

O desregramento de Trump pode dar a ganhar a eleição a Clinton, mas o repúdio pelas posições do milionário de Nova Iorque não se traduziu até agora em intenções de voto na democrata que em décadas de actividade política firmou em largas faixas do eleitorado uma inabalável imagem de oportunista e manipuladora sem escrúpulos.

 

A campanha de Clinton/Kaine tem ainda de encontrar o tom certo para escapar aos temas fortes lançados por Trump e impor os próprios termos do debate o que parece difícil ante a barragem de demagogia descabelada do republicano que relega até o seu parceiro Mike Pence, governador de Indiana onde Obama perdeu em 2012, para um plano secundaríssimo.

Para a maioria presidencial de 270 votos no Colégio Eleitoral muito contará a mobilização dos hispânicos (10% do eleitorado em 2012) em estados como a Califórnia (55 eleitores), Texas (38) ou Flórida (29).

 

Se Clinton/Kaine repetirem o triunfo de Obama/Joe Biden na Flórida e Califórnia em 2012 têm fortes hipóteses de chegar à Casa Branca, mas não poderão falhar a faixa dita "afro-americana" (13% do eleitorado) que na Pensilvânia e Illinois (ambos 20 eleitores) contribuiu em duas eleições sucessivas para a vitória presidencial democrata.

 

O milionário desvairado tem marcado o tom da campanha cavalgando a onda de protesto, como fez à sua maneira Bernie Sanders, dos deserdados da globalização, perdedores na repartição de rendimento, carentes na saúde e assistência, jogando forte na xenofobia e exclusivismo nacional.

 

Se Hillary Clinton não sair da convenção a marcar de vez o tom da campanha, o panorama ameaça tornar-se deveras assustador.

 

Jornalista

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