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Portugueses, 0 - Funcionários públicos, 1

Pedia-se um árbitro justo, mas espreitando a biografias dos nossos governantes, constata-se que dos 18 ministros (incluindo o Primeiro), 12 são funcionários públicos, e aos restantes 6 pouca experiência empresarial se lhes conhece.

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Gosto da franqueza de António Costa. Não tem cá papas na língua, nem consegue esconder a verdade durante muito tempo. Ponham-no no palanque, acendam os holofotes e ele conta tudo, sem que seja preciso recorrer à tortura para o fazer falar. Foi o que aconteceu no discurso da "rentrée" em que, lançado a explicar-nos como tinha acabado com a crispação na sociedade portuguesa, o primeiro-ministro fez saber que já não há conflitos entre (sic) "os portugueses e os funcionários públicos".  

 

A guerra a que Costa se refere é bem real, e até inevitável: só por loucura a equipa da função pública prescindirá das suas conquistas, da mesma forma que os trabalhadores do sector privado não deixarão de protestar por se verem obrigados a pagar as benesses do clube contrário. Ou seja, a única coisa que se podia pedir era um árbitro justo. A questão, no entanto, começa aí. Espreitando a biografia dos nossos governantes na página do Governo na internet, constata-se que, dos 18 ministros (incluindo o primeiro), 12 são funcionários públicos, e dos restantes seis pouca experiência empresarial se lhes conhece!!

 

A coisa nem faria muito mal se a função do Governo se limitasse a regulamentar a orgânica dos ministérios e serviços, o que seguramente este Executivo fará melhor do que ninguém, conhecendo de ginjeira as normas indecifráveis que tutelam a administração pública. O pior é que são exatamente os mesmos que decidem e legislam sobre a vida das empresas e dos "portugueses" na aceção que lhes foi agora dada por António Costa.

 

Convenhamos que é muito difícil para alguém a quem o emprego e o salário ao fim do mês foram sempre realidades imutáveis e sagradas perceber a ansiedade dos "portugueses", cuja vida depende em cada momento de um enorme conjunto de fatores que não controlam.

 

A simples falência de um cliente da empresa onde trabalham, a recusa de uma operação de crédito, o súbito aparecimento de um concorrente vindo da conchinchina, são situações que podem deitar abaixo toda uma expectativa de estabilidade. E é por isso que eles se preocupam com a saúde das organizações onde trabalham, com a qualidade das pessoas que as dirigem e com tudo o que possa beliscar o negócio.

 

Um governo insensível a esta realidade, porque a não conhece, entretém-se a impor normas e obrigações que exasperam quem as tem de cumprir e que minam a competitividade.

 

Decidir que se pagam os subsídios de férias e Natal em duodécimos e depois já não, impor preenchimento de modelos, mapas, reportes, alterar impostos, taxas e descontos, mudar faltas, feriados e licenças e mais mil e uma trapalhadas várias que os ilustres mandantes despejam alegremente e com a maior leviandade na cabeça cá da malta, ignorando por completo como a coisa afeta a vida dos "portugueses".

 

E isto para já não falar dos poucos idiotas que um dia se lembram de fazer qualquer coisa, metendo o seu dinheirinho em qualquer negócio. O caso é logo configurado como um atentado pela miríade de "serviços públicos" (o nome só pode ser mesmo para gozar com o lorpa do cidadão) que acometem sobre o estúpido empreendedor todo o tipo de licenças, autorizações, inspeções, declarações, atestados e outra balística própria do léxico do funcionalismo.

 

O agravamento do fenómeno fica agora explicado ao escrutinar a origem profissional dos ministros.

 

Temos um Governo de funcionários públicos que derrota um país de "portugueses". Parabéns aos vencedores.

 

Jornalista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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