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15 de Março de 2013 às 00:01

A máquina do mais tempo

Oxalá não precisássemos de mais tempo. Oxalá o défice se cumprisse e o PIB se comprasse, oxalá houvesse empregos, oxalá o regresso aos mercados fosse uma forma de bem-estar. Mas não é. Precisámos de mais tempo: ei-lo, um anito mais. Não é uma vitória, é uma derrota. Que seja um novo capítulo, em vez de uma capitulação.

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Vitória seria não precisar de mais tempo para reduzir o défice orçamental. Mais tempo significa que o défice este ano será maior que o previsto e mais défice é mais dívida pública hoje, que são mais impostos amanhã. Infelizmente, assim é. Assim é porque a promessa de corte de despesa pública com que Passos ganhou as eleições não se fez e a overdose de impostos aniquilou a economia.

Na distribuição de culpas, a Europa está à cabeça. Se Portugal fez tudo o que lhe pediram e o plano falhou, a culpa é do plano. O plano começou por ser mal desenhado, ignorando a dívida das empresas públicas, o que obrigou os bancos a conceder-lhes crédito, em detrimento das empresas privadas. Depois, a Europa é uma lástima política. Dão-se hurras a Mario Draghi, mas o Banco Central Europeu só tem tratado da rede financeira. Não há política económica na Europa. Não há política na Europa. Não há Europa.

Não há Europa, há um somatório de delegados das nações que se encontram à semana. É confrangedor assistir à dormência e incompetência da Europa, que se detém nos "quems" quando os Estados Unidos se mobilizam nos "comos". Não é só a política do dólar que é segura como um frasco de nitroglicerina. É o investimento em investigação e em inovação, que encaminham o milagre do "shale gas" que leva Obama a anunciar a independência energética. E a Europa sempre a vê-los passar. E a Europa em recessões. Portugal merecia a ponta de sorte de continuar a ter países compradores a quem exportar. Mas o comércio externo quebrou. Por isso as perspectivas para o PIB vão sendo reduzidas. E o desemprego vai sendo maior.

O que se faz com mais tempo? Prolonga-se um plano que falhou? Rasga-se o plano? Nem uma coisa nem outra. É preciso que o país não perca a cabeça. É preciso que os tutores deste plano percam as peneiras. É preciso que os tutelados percam a ingenuidade. É preciso que todos percebam que não podem mentir ao povo. O que pensam os governados quando ouvem hoje Passos, Gaspar, Durão, Cavaco dizerem que mais tempo é excelente quando há poucos meses juravam que mais tempo seria pior que aguarrás pela goela abaixo? Que credibilidade tem uma política que se faz pela manipulação oportunística das suas convicções?

Como se põe a economia a crescer? Como se atrai investimento produtivo, que crie emprego? Baixando impostos, claro. Eliminando burocracias, é evidente. Mas não basta. É preciso aniquilar os "custos da informalidade", as cunhas, as negociatas, a falta de concorrência e de oportunidades; é preciso um sistema de Justiça que funcione e que seja credível. É preciso portanto o contrário do que este sistema político perpetua. É preciso o impossível.

Se o que é preciso fazer não é possível fazer, sobram as más soluções, como querer ser pobre solvente, ou as soluções de ruptura, como sair do euro e entrar em períodos de inflação. São soluções de desconhecido que não estamos a evitar.

N’ "A Máquina do Tempo" de H. G. Wells, há duas palavras que perseguem o futuro: "what if...", "e se...". E se mais um ano for para morrer devagar, então só serve à agonia. Isso não é mais tempo, é menos tempo. Menos tempo para nós, país.

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