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20 de Outubro de 2016 às 20:10

Os robôs e o fim da globalização

Há poucos dias um líder sindical espanhol dizia que os robôs deveriam, a curto prazo, pagar segurança social. Porque com o fim do trabalho e com a precaridade, era impossível a sustentabilidade desta.

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Há poucos dias o historiador (muito amado nos sectores conservadores dos EUA e da Grã-Bretanha) Niall Ferguson escreveu um artigo que acerta no alvo: estamos a assistir ao estertor deste alegre mundo global que nos governou entre 1979 e 2008? Onde, como diz, se cruzaram globalização (económica e humana), tecnologias da informação e borbulhas dos mercados? Ferguson parte do discurso de Theresa May, a nova primeiro-ministra britânica, no congresso do Partido Conservador para chegar à conclusão que uma nova era está a impor-se. Ao proclamar a chegada de um "Brexit duro", May, deixou claro que o Reino Unido votou o fim da livre circulação de pessoas e isso significa, na prática, a separação do mercado europeu. Depois, enterrando a herança de Thatcher (a grande responsável pelo "Big Bang" que modificou o sector financeiro britânico e tornou a City uma das capitais financeiras do mundo e a guia da globalização financeira), May defendeu a necessidade de o Governo assumir as suas responsabilidades, colocando-o ao serviço dos trabalhadores, no âmbito de uma nova estratégia industrial. Pelo meio disparou sobre a classe dos "privilegiados". Pelo meio ficou a ideia, pelo menos na opinião de Ferguson, que a política de defesa da City como capital financeira do mundo, caiu.

 

Mas o que é mais interessante na opinião do historiador britânico é a forma como ele considera este um momento em que se abriu uma nova guerra de trincheiras. May disse no congresso tory: "Quem crê ser um cidadão do mundo não é cidadão de parte alguma. Não entende o que significa a palavra cidadania". Ou seja, liquidou aquilo que foi a construção das últimas três décadas: uma classe global, com poucas raízes, que tem vários passaportes, casas em diferentes países. E defendeu os que, cidadãos do Estado-nação têm tudo a apontar a esses cosmopolitas globais sem noção de pátria (ou de deveres fiscais, já agora) e que se riam de Donald Trump e de Boris Johnson. Theresa May colocou como "inimigos" os cosmopolitas sem raízes, onde Ferguson inclui Christine Lagarde ou António Guterres. E considera que o Brexit vai fazer com que o Reino Unido retroceda até ao ano em que entrou na Comunidade Europeia. Mas será esta a leitura total a fazer deste novo paradigma? Parece evidente que os "perdedores" da globalização procuram unir vozes contra um mundo que lhes escapa e que deixou de lhes dar segurança. E há quem não compreenda essa atitude das "massas". Afinal como compreender a austeridade num mundo onde alguns colocam fortunas em "off-shores" e vivem entre o Mónaco e o Dubai?

 

Estas questões levantadas por Ferguson entroncam no receio que a quarta revolução industrial está a trazer, no Ocidente, a quem vê o fim do trabalho e a destruição da segurança social. Ou seja, de um mundo onde havia alguma segurança. Há poucos dias um líder sindical espanhol dizia que os robôs deveriam, a curto prazo, pagar segurança social. Porque com o fim do trabalho e com a precaridade, era impossível a sustentabilidade desta. É por esta e por outras que o discurso de Theresa May é tão claro.

 

Grande repórter

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