Opinião
O estado das coisas
Teixeira de Sousa, o último primeiro-ministro da monarquia, fazia uma análise certeira do estado anémico do país.
Escrevia ele: "Este país, que querem fazer passar por agrícola, mas que não produz, sequer, pão, nem carne para a alimentação pública, e por industrial, mas que, em regra, produz caro e mau, é tributário de países estrangeiros por dezenas de milhares de contos, que representam o excesso das importações sobre as exportações." Na época, tudo estava hipotecado. Não aprendemos muito ao longo do tempo. Nessa época um regime ruía e outro ia surgir como redentor.
Na essência, nada mudou. As finanças continuaram a ser o calcanhar de Aquiles do regime. Mas elas não justificam por si só erros sucessivos a nível de decisões e, sobretudo, aquilo que continua a ser uma ausência gritante: a inexistência de um conceito de Portugal para o presente e para o futuro.
Se olharmos para as irrealidades do dia-a-dia veremos que nada parece mudar na essência: o imobilismo e a falta de estratégia cruzam-se com a insolvência do pensamento. O folhetim grotesco da CGD (o banco fulcral do sistema e o braço armado do Estado) parece digna de um "reality show" com as manas Kardashian, como se a economia portuguesa fosse apenas uma protagonista da "Casa dos Segredos". E ninguém parece ter vergonha do seu papel no caso.
A possibilidade de se andar a esburacar o Algarve em busca de petróleo quando o turismo (que dispensa a alteração do ambiente envolvente) é um dos motores da economia, porque um qualquer secretário de Estado não reparou nos prazos legais, mostra a insolvência de uma ideia de país. Num mundo inseguro e contraditório, a falta de uma estratégia nacional não se consegue esconder atrás da sombra de tácticas que vão garantindo o mínimo de oxigénio. Numa altura em que a Europa se depara com um terrível dilema (ou sabe o que quer ou dissolve-se), Portugal navega à bolina, tentando evitar Adamastores e tempestades tropicais. Não chega. Alguém quer mudar o estado das coisas?
Na essência, nada mudou. As finanças continuaram a ser o calcanhar de Aquiles do regime. Mas elas não justificam por si só erros sucessivos a nível de decisões e, sobretudo, aquilo que continua a ser uma ausência gritante: a inexistência de um conceito de Portugal para o presente e para o futuro.
A possibilidade de se andar a esburacar o Algarve em busca de petróleo quando o turismo (que dispensa a alteração do ambiente envolvente) é um dos motores da economia, porque um qualquer secretário de Estado não reparou nos prazos legais, mostra a insolvência de uma ideia de país. Num mundo inseguro e contraditório, a falta de uma estratégia nacional não se consegue esconder atrás da sombra de tácticas que vão garantindo o mínimo de oxigénio. Numa altura em que a Europa se depara com um terrível dilema (ou sabe o que quer ou dissolve-se), Portugal navega à bolina, tentando evitar Adamastores e tempestades tropicais. Não chega. Alguém quer mudar o estado das coisas?
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