Opinião
O drama da CGD
As palavras, ou a ausência delas, são a matéria-prima da política. Sem elas não há discurso, nem projecto. O inverso também existe, porque as palavras libertam, mas também afogam.
O mistério dos benefícios dos administradores da CGD fica a meio caminho entre o silêncio e a gritaria. Porque uns quiseram que o silêncio fosse a regra e outros desejam que o clamor faça desabar a ira dos deuses. No fim, tudo contribui para o descrédito: desde o modo como foram dados todos os poderes e benefícios a António Domingues à forma como isso serviu para transformar a CGD num saco de pancada onde o grande perdedor é o Estado e o contribuinte português. Agora tudo já parece ridículo: sejam os salários ou a declaração de rendimentos dos administradores. Entrou-se numa montanha-russa onde a última palavra foi dada ao Tribunal Constitucional. Para ver se alguém consegue colocar algum fim pedagógico no caso. Porque é a CGD que foi colocada perante um conjunto de seguidores de Mike Tyson: leva pancada de todo o lado.
Agora parece já só se poder esperar uma coisa: evitar danos maiores no braço armado do Estado. Aristóteles sabia o que era um mal menor. As sociedades aprenderam e aplicaram a ideia a todas as coisas: do mal, o menos. E Antonio Gramsci acrescentava: "O conceito de mal menor é um dos mais relativos. Confrontados com um perigo maior do que o que antes era maior, há sempre um mal que é menor, mesmo que seja maior do que antes era maior. Todo o mal maior se faz menor em relação a outro que é ainda maior e assim até ao infinito." Ou seja, neste momento qual é o mal maior e o mal menor para a CGD? Era aí que se deveria centrar a resolução deste problema que ultrapassa já um António Domingues que, depois disto, fica fragilizado. Porque, apesar das agendas políticas do Governo e da oposição, há algo que deveria ser preservado: num sector fragilizado é importante uma CGD forte.
Grande repórter