Opinião
O Céu e o Inferno do G7
Donald Trump, que governa através de tweets, acredita como uma fé que governa o Céu e que, à sua volta, só há pecadores. Que lhe devem o tributo e que se devem colocar de joelhos. Não distingue aliados de inimigos.
O conselheiro de Donald Trump para o Comércio, o assustador Peter Navarro, foi à Fox News dizer que Justin Trudeau, o primeiro-ministro do Canadá, merece "um lugar especial no Inferno". Para Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, Trudeau, pelo contrário, merece "um lugar especial no Céu". Entre o Céu e a Terra dissolve-se a aliança dos Estados Unidos com os seus tradicionais aliados. Donald Trump, que governa através de tweets, acredita como uma fé que governa o Céu e que, à sua volta, só há pecadores. Que lhe devem o tributo e que se devem colocar de joelhos. Não distingue aliados de inimigos. Nem os negócios da diplomacia. Só a sua verdade conta. Por isso, no G7, afrontou os seus mais preciosos aliados, julgando que num mundo multipolar os EUA podem, querem e mandam. Perante esta racionalidade Xi Jinping e Vladimir Putin riem. Secretamente acham que Trump é o Darth Vader da democracia americana. E, na verdade, o cangalheiro da liderança americana no mundo. Trump vive a pensar que o mundo se vê da Trump Tower e que todos são seus empregados. Um dia perceberá que apenas é um peão de outros interesses superiores.
A forma como Trump destratou os seus aliados do G7 mostra que a Europa, o Canadá ou o Japão não podem acreditar em nada do que ele diga. Ele simboliza aquilo que, de forma certeira, Mario Vargas Llosa dizia este fim-de-semana no ABC: "A democracia baseia-se em que a verdade prevaleça sobre a mentira e se a fronteira entre ambas é cada vez mais obscura e difusa então é a sociedade democrática que está ameaçada pela entronização das famosas pós-verdades." Os tweets de Trump são uma ameaça à democracia e a sua forma de pretensamente governar o mundo foi retirada da Terra Média. Não que Trump leia. Mesmo que seja Tolkien. Trump é um retrocesso civilizacional. E a Europa tem de se preparar para se defender desta forma de olhar para o mundo. Trump não está só. É apenas o Exterminador Implacável que foi enviado para a frente de combate.
Grande repórter