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26 de Novembro de 2017 às 20:17

O Benfica de tamancos 

Repletos de talentos, vamos ter equipas em guerra civil pelo título interno. Que parece ser a única coisa que interessa aos líderes dos principais clubes portugueses.

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No livro que Ruy Guerra escreveu sobre Garrincha, a certo momento fala do Mundial de 1966: "Os portugueses, treinados pelo brasileiro Otto Glória, tinham o centroavante moçambicano Eusébio e outros grandes jogadores. Eles despacharam o Brasil da Copa derrotando-o por 3x1 e vingaram-se da velha piada de que em Portugal se jogava de tamancos e com bola quadrada." Vendo o Benfica esta época fica-se com a noção de que o tempo em que as equipas que jogavam de tamancos e com bola quadrada regressou. A exibição dos encarnados em Moscovo não foi confrangedora: foi inexistente. Como, aliás, tem sido a sua militante tendência esta época. Cruyff dizia que, quando as coisas correm muito mal, deve-se regressar ao básico: conseguir a bola e passá-la ao colega mais próximo. Nem isso, o Benfica consegue fazer. A questão não é de sistema táctico. É de falência daquilo que foi a estratégia encarnada nos últimos anos e que assentou em ser uma plataforma de jogadores com potencial de venda. Olhe-se para o número de futuros craques adquiridos no último ano? Quais vingaram?

 

O desenho daquilo que é o caminho do Benfica para um acidente estilo Titanic foi mostrado num pequeno artigo saído há dias em A Bola: um jovem craque da formação, nas vésperas de uma renovação, estava a ser aconselhado a trocar de empresário. Se tivesse Jorge Mendes, as grandes montras do futebol europeu abrir-se-iam para ele. O que salta daqui é que o Benfica parece não estar a querer manter uma estrela para valorizar o seu plantel, mas sim uma que se possa vender. O erro fulcral está aí. E contamina o futebol português. O clima de autofagia reinante está a matar a galinha dos ovos de ouro. Um dia destes nem o campeão da Liga vai directamente à Liga dos Campeões. Repletos de talentos, vamos ter equipas em guerra civil pelo título interno. Que parece ser a única coisa que interessa aos líderes dos principais clubes portugueses. Que não exista uma indústria. Mas que só existam mercearias "gourmet" dirigidas por eles.

 

Grande repórter

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