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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt 16 de Outubro de 2017 às 20:07

A obsessão iraniana de Trump  

Donald Trump investiu contra o Irão, mas ficou praticamente isolado na comunidade internacional. É com atitudes destas que a influência americana no mundo se vai esbatendo.  

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Donald Trump criou um "centro do mal" e ele chama-se Irão. Foi este país que mereceu um duro discurso em que o Presidente americano culpou Teerão por todas as "maldades", dizendo que os EUA se recusarão a "certificar" o acordo internacional, feito sob os auspícios da ONU, sobre o nuclear. Segundo Trump, a decisão está agora nas mãos do Congresso e dos "aliados". Mas estes, e também a Rússia e a China, estão contentes com o acordo alcançado e com a forma como o Irão tem cumprido a sua parte. Trump só teve aplausos de Israel (e a sua política parece cada vez mais assemelhar-se ao que pensa Benjamin Netanyahu) e da Arábia Saudita. As palavras, rápidas e incisivas, da porta-voz da diplomacia europeia, Federica Mogherini, dizendo que o acordo é de várias nações e não dos EUA, mostraram que ninguém quer (à excepção dos EUA, de Israel e da Arábia Saudita) criar no Irão um problema tão complicado como o da Coreia do Norte. Trump voltou a incendiar a pradaria e deu razão a quem em Teerão sempre disse que não era possível confiar nos americanos. Porque rasgam os acordos que assinam. E esses são as vozes mais radicais, que muito têm feito para pôr em causa as acções moderadas do Presidente Rouhani. Trump quer assim dar força às forças da confrontação. Algo que obviamente Israel deseja, porque quer tornar irrelevante a única força militar no Médio Oriente que conta, o Irão.

 

A atitude de Trump é claramente definidora de que os EUA estão a deixar de ser uma potência com capacidade diplomática: vivem à sombra de alguém que, para contentar as suas tropas internas e alguns "aliados", deixaram de ter capacidade de influência. Lugar que, pelo caminho, será ocupado pela Rússia e, sobretudo, pela China. As palavras de Trump desintegraram a aliança que anteriormente isolaram o Irão. Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, China e ONU dizem que o Irão está a cumprir o acordo. Mogherini, que teve um papel fundamental na assinatura, sabe que um acordo não é uma sobreposição de vontades. É assim que se esvai a influência americana no mundo: se Washington rasga contratos e acordos quando muda de Presidente, como é que alguém pode confiar na outrora superpotência? É certo que a relação entre os EUA e o Irão nunca foi feliz depois da queda do xá em 1979 e da chegada do ayatollah Khomeini. Trump está a pôr em causa a influência americana no Médio Oriente como nenhum outro Presidente americano.

 

China: a terra dos muito ricos 

 

Nas vésperas de mais um congresso do Partido Comunista da China, que dará luz verde às propostas estratégicas de Xi Jinping para as próximas décadas, foi revelado um dado esclarecedor. A China é a terra dos muito ricos. A lista (a Hurun Report de 2017) divulgada mostra algo notório: os 2.130 homens e mulheres mais ricos da China têm tanto dinheiro como a quinta maior economia do mundo, a Grã-Bretanha. No topo está Xu Jiayin, do grupo Evergrande, que ultrapassou Wang Jianlin, do grupo Wanda. Este é um dos reflexos das profundas mudanças na sociedade chinesa, mesmo depois de Xi Jinping ter declarado a guerra à pobreza no país. Pelo menos 74 novos nomes juntaram-se à lista do grupo que tem fortunas individuais acima dos 300 milhões de dólares este ano, o que faz com que em conjunto tenha uma riqueza calculada em 2,6 triliões de dólares, mais ou menos o mesmo valor do PIB do Reino Unido. 

 

No topo da lista, há mudanças face ao ano passado: Xu Jiayin, "chairman" do grupo imobiliário Evergrande, surge como o homem mais rico da China, com uma fortuna avaliada em 43 biliões de dólares. O líder do ano passado, Wang Jianlin, caiu para quinto devido à queda das acções do grupo Wanda. Hoje, a fortuna familiar valerá 23 biliões de dólares. O grupo Evergrande é o maior do sector imobiliário na China e desde o início do ano as suas acções na bolsa de Hong Kong subiram 465%. Pony Ma Huateng, fundador e CEO da Tencent, surge em segundo na lista, com uma fortuna de 37 biliões de dólares, ultrapassando Jack Ma da Alibaba, com 30 biliões de dólares. A mulher mais rica da China, Yang Huiyan, accionista maioritária do grupo imobiliário Country Garden, surge em quarto, com uma fortuna de 24 biliões de dólares. Para lá do imobiliário na lista surgem muitos nomes da área tecnológica como Robin Li da Baidu e Ding Lei da NetEase. Quando surgiu a primeira lista deste género, em 1999, só faziam parte da lista 50 nomes. Agora há cinco dezenas de milionários que fazem parte da Alibaba.

 

Qatar: invasão com mercenários?

 

O antigo primeiro-ministro do Qatar, Abdullah bin Hamad al-Attiyah, acusou os Emirados Árabes Unidos de estarem por trás de uma invasão do seu país com o recurso a mercenários. Em Junho, a Arábia Saudita, os EAU, o Egipto e o Bahrain impuseram um embargo económico a Doha, acusando o Qatar de "financiar" o "extremismo" e de estar demasiado ligado ao Irão. Attiyah disse no diário espanhol ABC que os EAU contrataram uma empresa de mercenários do "tipo da Blackwater" para invadirem o país e destronarem o emir. O plano não terá sido activado porque Donald Trump não terá dado luz verde para a acção. Depois de militares da Blackwater terem morto dezenas de civis em Bagdade, em 2007, a empresa mudou de nome para Academi. E foi esta que terá treinado os mercenários na base militar de Liwa, nos EAU.

 

Timor-Leste: sobre o fundo soberano

 

O saldo final do Fundo Petrolífero de Timor-Leste caiu para 15,8 mil milhões de dólares (cerca de 570% do PIB) em 2016, o segundo ano em que se registou uma redução líquida, segundo o FMI. Segundo o organismo, as perspectivas de médio prazo para Timor-Leste "dependem de forma crítica da diversificação económica, uma vez que o campo de petróleo actualmente em produção estará esgotado por volta de 2022." Além de alertar para o facto de o Fundo Petrolífero estar a ser reduzido com a ocorrência de levantamentos expressivos para financiar o programa de investimentos públicos, a equipa do FMI menciona ser necessário saber se esses projectos de grande dimensão irão gerar retorno económico suficiente, que resulte num aumento das receitas fiscais e reforce a sustentabilidade fiscal. O FMI reforçou a ideia de que a angariação de receitas internas é fundamental, tendo saudado a criação da Autoridade Aduaneira e da Autoridade Tributária, bem como o plano de acção para aumentar o cumprimento das obrigações fiscais. 

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