Opinião
A conexão turca na Síria
Os EUA, focados em Ghouta e no Irão, esqueceram os curdos em Afrin. E não mexeram um dedo para os defender. Com esta posição de força, a Turquia consegue uma influência directa sobre mais de 5.000 km2 de território sírio.
Enquanto o Ocidente está focado em Ghouta oriental, a Turquia move as suas pedras no xadrez sírio. E cria a sua zona de segurança face às diferentes forças curdas que ali pretendiam impor um espaço autónomo face a Damasco ou Ancara. Não foi um acaso a ofensiva militar em Afrin. E o dia do anúncio da tomada da cidade também não foi deixado ao acaso: foi o da derrota naval dos aliados, na I Guerra Mundial, em Galipoli, face aos otomanos. No centro de Afrin estão agora bandeiras turcas e dos seus aliados sírios. E no chão, derrubada, ficou a estátua do herói curdo Kawa. Foi uma vitória muito saborosa para o Presidente turco Recip Erdogan, até porque infligiu uma derrota pesada (e simbólica a todos os níveis) aos seus inimigos curdos que, no meio da fragmentação síria, e da retirada do exército de Bashar al-Assad em 2012, tinham criado um verdadeiro território autónomo na zona de Afrin. O sonho curdo de consolidar o seu poder na fronteira norte da Síria com a Turquia acabou por perecer. Esta vitória turca acaba por ser elucidativa do caos estratégico americano, que conta com os curdos como a sua tropa no terreno, face ao Daesh e, de alguma forma, como contraponto a Bashar al-Assad e aos iraquianos.
Perder Afrin foi doloroso para as forças do YPG curdo. Até porque esta derrota deixa a porta aberta para os turcos poderem também agora afastar os curdos das outras cidades estratégicas que têm no Norte da Síria, Kobane e Qamishlo. A Rússia, com quem os curdos também contavam para "acalmar" os turcos, deu luz verde a Ancara para atacar sem problemas, até porque isto permitiu mostrar ao YPG que os Estados Unidos não os protegem indefinidamente. Como se viu agora de forma notória. Os EUA, focados em Ghouta e no Irão, esqueceram os curdos em Afrin. E não mexeram um dedo para os defender. Com esta posição de força a Turquia consegue uma influência directa sobre mais de 5.000 km2 de território sírio. Pelo caminho fugiram da zona cerca de 200 mil civis, a maioria agora a caminho de Sheva, outra zona de influência curda. Ou seja, Afrin funcionará também para estratificar cada vez mais as diferentes etnias que antes da guerra conviviam no espaço sírio. E que estão cada vez mais separadas. A guerra continua na Síria. Mas as zonas de influência começam a estar cada vez mais definidas.
Vietname e o choque americano
O Vietname é um país que para os portugueses soa longínquo. Mas que teve ligações históricas a Portugal e que tem tido um crescente aumento de alunos a estudar a nossa língua. Além disso é hoje um dos grandes pólos de crescimento económico do Sudeste Asiático. No dia 8, o Vietname e 10 outros países do Pacífico assinaram o acordo Transpacífico de Comércio (TPP), de que se retirou os EUA após a chegada de Donald Trump ao poder. Este acordo permitirá ao Vietname garantir taxas alfandegárias mais baixas para alguns dos seus produtos vitais, como o calçado e vestuário. E abrirá as portas do Vietname às importações agrícolas e de produtos de consumo. O potencial da economia vietnamita, com o crescimento de uma forte classe média, era conhecido do próprio secretário de Estado do Comércio americano, Wibur Ross, que ali teve uma fábrica de algodão até 2013. Tornou-se mesmo o maior mercado em crescimento para as exportações americanas, que atingiram 4,4 biliões de dólares em 2016. Hanói é o 10.º maior importador de produtos agrícolas americanos. O PIB do Vietname cresceu 6,8% no ano passado e as exportações cresceram 21%. Os investimentos externos foram liderados pelo Japão, Coreia do Sul, Singapura e China. Muitas das exportações vietnamitas associadas a estes investimentos são nas áreas na electrónica, vestuário e calçado. No próximo ano, deverá avançar um acordo comercial entre a União Europeia e o Vietname. O Vietname ficou extremamente desapontado com a saída dos EUA do acordo TPP porque via Washington como um contraponto comercial, político e militar à crescente influência chinesa na região. Os EUA podem ser assim o verdadeiro perdedor desta saída do TPP. Com isso as exportações agrícolas para o Vietname poderão agora vir do Canadá, Austrália e UE em vez de dos EUA: um acordo bilateral entre Washington e Hanói em termos comerciais é pouco provável. Refira-se que nos primeiros dois meses deste ano a China já passou a comprar mais ao Vietname do que os EUA.
Faixa e rota: os benefícios
Os países de língua portuguesa estão bem posicionados para partilharem dos benefícios económicos associados à iniciativa "Uma faixa, uma rota" anunciada pela China, pode ler-se no Clbrief (https://clbrief.com/), um serviço de informação reservada especializado no mundo de língua portuguesa e na China. O texto publicado afirma que as autoridades chinesas deixaram claro que a inclusão dos países de língua portuguesa naquela iniciativa é possível e acrescenta que estes países têm muito a ganhar do alargamento pela China do âmbito geográfico original das iniciativas da Nova Rota da Seda e da Rota da Seda Marítima do Século XXI. Em São Tomé e Príncipe, por exemplo, a China Road and Bridge Corporation (CRBC) deverá vir a construir um porto de águas profundas, que o governo local pretende transformar num centro de navegação regional e na Guiné-Bissau, outro país de língua portuguesa, a China Machinery Engineering Corporation assinou em 2016 um acordo com o governo para iniciar a construção de uma infra-estrutura semelhante em Buba, a sul da capital Bissau.
Irão: detenção de ex-vice
Um antigo vice-presidente e chefe de Gabinete do antigo Presidente Mahmoud Ahmadinejad foi preso no sábado. Não foram divulgadas as razões para a detenção de Rahim Mashaie, determinada pela justiça iraniana. Mashaie foi o primeiro vice-presidente em 2009, no segundo mandato de Ahmadinejad. Este surgiu este fim-de-semana em público a defendê-lo como "corajoso".
Lisboa: Fórum Portugal-China
Dirigentes de sete empresas da China participam dia 22 de Março corrente em Lisboa num encontro empresarial Portugal-China, numa organização da Associação Industrial Portuguesa (AIP), em parceria com a Federação da Indústria e Comércio da província de Jilin. O encontro, a decorrer nas instalações da AIP, na Junqueira, permitirá que os dirigentes empresariais fiquem a conhecer os produtos e serviços portugueses das áreas da agricultura biológica, indústria química, equipamento para fogo, têxtil, peças auto e moto, imobiliário e construção.