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Missão impossível?

O destino de Portugal é esperar que o tempo, os deuses ou uma qualquer conjugação astral resolva os problemas. Portugal revela-se uma missão impossível.

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A saga "Missão Impossível" começou por ser uma série de televisão, em 1966. No primeiro episódio, Martin Landau, o mestre dos disfarces, surgia como um general das Caraíbas. A missão ideal tinha que ver com jogos mentais, ou seja, colocar e tirar a máscara sem ninguém perceber que os agentes tinham estado ali. Hoje, como se pode ver no filme "Missão Impossível: Fallout", tudo é acção. Fictícia, pelo menos. A política dos nossos dias também está contaminada por esta alteração: tudo tem de parecer sempre em movimento. O problema é que para lá do frenesim do momento tudo é deixado para as calendas gregas. Discute-se muito, mas espera-se. E não se faz nada. O destino de Portugal é esperar que o tempo, os deuses ou uma qualquer conjugação astral resolva os problemas. Portugal revela-se uma missão impossível. Portugal constrói um império global, mas sempre desprezou o seu interior. O Estado português definiu-se sempre no litoral: como uma arquitectura burocrática que vive das receitas das alfândegas e do comércio externo. E dos que trabalham por conta de outrem. As auto-estradas serviram para que os portugueses do interior fugissem mais rapidamente rumo às grandes cidades.

 

Olhe-se para o que os últimos tempos nos legaram: após os incêndios, vai discutir-se que política florestal queremos (ou podemos, com as alterações climáticas notórias), pela enésima vez; a qualidade da água do rio Tejo, na albufeira de Fratel, está nos limites mínimos, mas tudo é observado com muita calma; os comboios implodiram, mas os responsáveis assobiam para o ar, porque andam de carro; em Setúbal prepara-se uma alteração do leito do Sado, mas ninguém se preocupou com o impacto na fauna marinha ou nas praias da região; na costa alentejana continua a preparar-se o assalto petrolífero, contra toda a lógica. O Portugal mais antigo está a morrer perante o olhar impávido e parolo do Estado e da sociedade civil. E ninguém parece ter um plano para o futuro. Será mesmo Portugal uma missão impossível? 

 

Grande repórter

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