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30 de Dezembro de 2020 às 10:20

Tenham um feliz 2001

Aos 78 anos, Caetano Veloso continua moderno, no sentido de ser um homem do tempo de agora, do dia de hoje. Há poucos dias, Caetano parou o YouTube brasileiro com uma linda live. Só no vídeo oficial, a coisa já vai em um milhão e meio de views.

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Caetano apresentou um repertório variado, atravessando algumas décadas e estilos, sem nunca perder o seu jeito de caetanear o que há de bom. Vai lá ver que é de graça e vale a pena.

 

Ao fim do espetáculo, Caetano desejou a todos um feliz 2001. Isto mesmo, 2020 foi tão mal que o baiano decidiu fazer um reset e voltar duas décadas no tempo. Coisas que só os doidos em geral e os poetas em específico são capazes de fazer.

 

Não ficou claro se a frase de Caetano foi fruto de um lapso ou algo premeditado. Mas a coisa ecoou na cabeça de quem ouviu. Sim, eu também queria estar outra vez em 2000 e a desejar um ano novo melhor para todos.

 

A virada de 2000 para 2001, por acaso, até foi importante. O 11 de setembro ainda não havia acontecido, logo, todas as suas consequências também não. Além disso, lá estavam vivas todas as pessoas que perdemos nas duas décadas seguintes, se calhar, a nos abraçar à meia-noite, a brindar com espumante um futuro cuja extensão não poderiam imaginar ser tão curto.

 

Por acaso, reli esta semana uma crónica minha a falar sobre 2016. Lá eu dizia que tinha-se tratado de um ano aziago. Foi em 2016 que perdemos Bowie, Leonardo Cohen, Prince e George Michael. Para quem gosta de música pop e viveu os anos 80, 2016 pareceu um filme de terror.

 

2020, que começou tão luminoso e cheio de esperanças como só os anos redondos sabem ser, cedo tornou-se também ele azedo, turvo, sinistro. Mas vamos parar de falar em tristezas. Não quero que a minha última crónica do ano termine de forma lúgubre. Se comecei com o Caetano, terminarei com o Vinicius. Mandou-o meu Tio Olavo um texto do velho poeta a falar sobre como devemos viver um ano novo, incrivelmente adequado a estes tempos pandémicos:

 

"Não abuseis da carne de porco, nem dos ovos, nem das frituras, nem das massas. Mantende, se tiverdes mais de cinquenta anos, uma dieta relativa durante a semana a fim de que vos possais esbaldar nos domingos com aveludadas e opulentas feijoadas e moquecas, rabadas, cozidos, peixadas à moda, vatapás e quantos. Fazei de seis em seis meses um check-up para ver como andam vossas artérias, vosso coração, vosso fígado.

 

E amai, amigos meus! Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres, este, sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. Mas sobretudo não morrais, amigos meus!"

 

Feliz 2001 para vocês.

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