Opinião
Tenham um feliz 2001
Aos 78 anos, Caetano Veloso continua moderno, no sentido de ser um homem do tempo de agora, do dia de hoje. Há poucos dias, Caetano parou o YouTube brasileiro com uma linda live. Só no vídeo oficial, a coisa já vai em um milhão e meio de views.
Caetano apresentou um repertório variado, atravessando algumas décadas e estilos, sem nunca perder o seu jeito de caetanear o que há de bom. Vai lá ver que é de graça e vale a pena.
Ao fim do espetáculo, Caetano desejou a todos um feliz 2001. Isto mesmo, 2020 foi tão mal que o baiano decidiu fazer um reset e voltar duas décadas no tempo. Coisas que só os doidos em geral e os poetas em específico são capazes de fazer.
Não ficou claro se a frase de Caetano foi fruto de um lapso ou algo premeditado. Mas a coisa ecoou na cabeça de quem ouviu. Sim, eu também queria estar outra vez em 2000 e a desejar um ano novo melhor para todos.
A virada de 2000 para 2001, por acaso, até foi importante. O 11 de setembro ainda não havia acontecido, logo, todas as suas consequências também não. Além disso, lá estavam vivas todas as pessoas que perdemos nas duas décadas seguintes, se calhar, a nos abraçar à meia-noite, a brindar com espumante um futuro cuja extensão não poderiam imaginar ser tão curto.
Por acaso, reli esta semana uma crónica minha a falar sobre 2016. Lá eu dizia que tinha-se tratado de um ano aziago. Foi em 2016 que perdemos Bowie, Leonardo Cohen, Prince e George Michael. Para quem gosta de música pop e viveu os anos 80, 2016 pareceu um filme de terror.
2020, que começou tão luminoso e cheio de esperanças como só os anos redondos sabem ser, cedo tornou-se também ele azedo, turvo, sinistro. Mas vamos parar de falar em tristezas. Não quero que a minha última crónica do ano termine de forma lúgubre. Se comecei com o Caetano, terminarei com o Vinicius. Mandou-o meu Tio Olavo um texto do velho poeta a falar sobre como devemos viver um ano novo, incrivelmente adequado a estes tempos pandémicos:
"Não abuseis da carne de porco, nem dos ovos, nem das frituras, nem das massas. Mantende, se tiverdes mais de cinquenta anos, uma dieta relativa durante a semana a fim de que vos possais esbaldar nos domingos com aveludadas e opulentas feijoadas e moquecas, rabadas, cozidos, peixadas à moda, vatapás e quantos. Fazei de seis em seis meses um check-up para ver como andam vossas artérias, vosso coração, vosso fígado.
E amai, amigos meus! Amai em tempo integral, nunca sacrificando ao exercício de outros deveres, este, sagrado, do amor. Amai e bebei uísque. Não digo que bebais em quantidades federais, mas quatro, cinco uísques por dia nunca fizeram mal a ninguém. Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido. Mas sobretudo não morrais, amigos meus!"
Feliz 2001 para vocês.