Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
21 de Outubro de 2020 às 11:10

O professor e o semeador

Seria uma boa ideia se no 5 de outubro do ano que vem tanto o Governo como as empresas e as famílias lembrassem que além da implantação da República também se comemora o Dia do Professor. Afinal, uma boa república precisa de bons professores. Sem eles não há bons cidadãos.

  • ...

“Não te preocupes onde cai a semente, semeia sempre”, diz a parábola do semeador. Mas eu comecei o conto pelo fim. Antes da moral da história há que lembrar uma passagem bíblica, do evangelho de Lucas: “Um semeador saiu a semear as suas sementes. Houve uma que caiu na estrada e foi pisada. Outra caiu sobre uma pedra e secou-se. Outra caiu entre espinhos e crescendo entre eles, sufocou. Uma caiu em boa terra e produziu bom fruto.”

O que Lucas queria destacar é que a função mais importante do semeador não é escolher as sementes. É de as semear. Simples assim. Mesmo que muitas se percam, sempre haverá as que vão frutificar. E é por isso que tal parábola é usada para falar do trabalho dos professores.

Semana passada foi o Dia Mundial do Professor, data que costuma passar quase invisível em Portugal. E assim foi mais uma vez. Estranho. Temos um Presidente da República que é professor. Vivemos em tempos em que sem o apoio desses profissionais a vida seria impossível para quem tem crianças. E mesmo assim...

Toda gente tem um professor ou professora que nunca poderá esquecer. As marcas que os bons mestres imprimem na nossa formação são como tatuagens em tinta permanente. E, no entanto...

Nunca teria pensado em viver da escrita se não fosse um professor a dizer-me que eu tinha jeito para a coisa. Há tantos casos por aí parecidos. De gente que descobriu um talento, uma vocação, um destino só porque um professor estava lá para sinalizar o caminho. Será que também não foi o seu?

Há professores que não dão expediente nas escolas. São aqueles mestres com quem nos esbarramos nas esquinas da vida. Alguns são nossos chefes, patrões, até mesmo colegas de trabalho que sabem algo que não sabemos e que têm jeito, interesse, paciência para nos ensinar.

Em geral, somos injustos com todos esses. Não gostamos dos chefes porque eles mandam em nós. Não gostamos de patrões porque nos exploram. Não damos crédito ao colega que nos ensina pois isto seria passar um atestado de ignorância a nós mesmos.

Quanta injustiça, quanta vaidade, quanta ingratidão. Claro que estou a eliminar da equação os chefes canalhas, os patrões gananciosos e os falsos colegas. Mas se estes existem também há os que são bons e que merecem mais atenção. De onde será que vem esta falta de reconhecimento?

Um país que não valoriza os professores acaba por gerar profissionais que não percebem a importância de passar e receber aprendizados. É um país que tem dificuldade de evoluir, que gera empresas com pouco espírito de equipa.

Não há nada que me deixa mais feliz do que quando algum jovem que trabalhou comigo amadurece e anos depois, às vezes já velho, com filhos grandes e até netos, agradece-me por ter colaborado na sua formação. Quem já recebeu esse tipo de elogio sabe o valor que tem.

Seria uma boa ideia se no 5 de outubro do ano que vem tanto o Governo como as empresas e as famílias lembrassem que além da implantação da República também se comemora o Dia do Professor. Uma efeméride não deveria apagar o brilho da outra. Afinal, uma boa república precisa de bons professores. Sem eles não há bons cidadãos.

Ou como diria o meu Tio Olavo a citar Carlos Drummond de Andrade: “O professor é quem mais semeia amanhãs.”

 

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio