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20 de Agosto de 2019 às 18:37

A arte de ser um "troublemaker"

O “troublemaker” pode ser um elemento extremamente negativo em grupos onde essa energia destruidora não seja necessária. A sua necessidade de ser um ponto fora da curva irá impedir que o grupo siga um caminho de sucesso que não seja o dele.

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O que une Julian Assange a Joana D’Arc? Em que mesa da história podemos sentar Trump e Martin Luther King lado a lado? O que Thanos tem a ver com James Dean?

 

A resposta é que todas as personagens do parágrafo acima, nos bons e maus sentidos, são verdadeiros "troublemakers".

 

A eles podemos reunir Che Guevara, Papa Francisco, Han Solo, Madonna e tantos outros. Sem os tortos, os problemáticos, os estranhos, os disfuncionais, a História com "h" grande não andava (nem os livros, filmes, óperas e qualquer peça ficcional).

 

Até por causa disso, os "troublemakers" são sempre vilões terríveis ou heróis plenos de carisma. A questão é que isto não pode ser considerado um valor por si mesmo. Tanto o santo quanto o canalha podem ser carismáticos. E não é preciso ter carisma para fazer o mundo andar para a frente.

 

É abissal o fosso de carisma entre um Steve Jobs e um Bill Gates. No entanto, cada um soube criar necessários problemas. "Troublemaker" não é sinónimo de vedeta.

 

Via de regra, o "criador de problemas" só se sente encaixado quando em posição de liderança. É natural. Quem questiona regras estabelecidas tem a tendência de estabelecer regras novas. Isto até pode ser algo bem-vindo: dos problemas criados podemos ter novas luzes, descobrir novos mercados, conceber novos produtos.

 

Porém, o "troublemaker" pode ser um elemento extremamente negativo (seja uma empresa, uma sala de aula, uma equipa de futebol) em grupos onde essa energia destruidora não seja necessária. Ele irá fazer tudo para interromper ciclos virtuosos, a sua necessidade de ser um ponto fora da curva irá impedir que o grupo siga um caminho de sucesso que não seja o dele.

 

Há duas séries em cartaz nas plataformas de streaming que são exemplares na demonstração desse perfil profissional: a excelente "City on a Hill", na HBO e a mediana "The Night Shift", na Amazon Prime.

 

"City on a Hill" traz-nos um Kevin Bacon envelhecido em bourbon, vestindo a máscara de um Clint Eastwood do mal. Detetive do FBI, Kevin quebra todas as regras nas suas investigações. Para ele os fins justificam qualquer meio. Tem sucesso, mas vai deixando um rasto de sangue e desarmonia em seu caminho.

 

"The Night Shift" é uma série hospitalar como "Anatomia de Grey" ou "ER". Desta "roubou" a personagem de George Clooney, colocou-o em esteroides, e assim criou TC Callahan, o médico que não consegue trabalhar dentro de qualquer esquema, usa no dia a dia métodos aprendidos na guerra do Afeganistão e quase sempre vai à bulha com os seus parceiros, pacientes e quem quer que se meta no seu caminho.

 

As duas personagens são tão carismáticas e ao mesmo tempo tão tóxicas que a maior parte do tempo não temos certeza se devemos torcer por elas. Mas ao menos elas estão na televisão. Fica bem mais complicado quando o "troublemaker" é um nosso colega de empresa.

 

É difícil, quase sempre impossível, convencer um "troublemaker" do seu lugar na hierarquia. Ter paciência então não é mesmo com ele. O resultado é previsível.

 

Alguns irão alcançar lugares cimeiros em empresas muito competitivas. Tão competitivas que as suas cabeças rolarão quando novos "troublemakers" aparecerem a questionar as suas posições. Haverá os que encontrarão a felicidade em projetos unipessoais. Uma parte considerável viverá infeliz em organizações que não a compreende. Uns e outros saberão dosear o espírito, causando problemas apenas onde e quando forem necessários. Estes tendem a se tornar líderes importantes.

 

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Troublemakers plantam ventos. Colhem tempestades ou energia eólica extremamente valorizada. O salário para fazer uma coisa ou outra é o mesmo, é tudo uma questão de opção profissional".

 

Publicitário e Storyteller

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