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Por onde anda o Dr. Paulo Portas?

Paulo Portas e o CDS-PP não param de ser enxovalhados pelos propósitos de Pedro Passos Coelho.

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Paulo Portas e o CDS-PP não param de ser enxovalhados pelos propósitos de Pedro Passos Coelho. Parece que o segundo partido da coligação está ali para aquiescer a tudo quanto ocorre nas meninges de Passos. Quando foi a Belém, pedir os améns do dr. Cavaco, levou consigo, como amparo e preferência, o dr. Vítor Gaspar. O dr. Cavaco não regateou as bênçãos e, meia hora depois, emitiu um comunicado entusiástico, incitando o primeiro-ministro a prosseguir no afã. Ignorando Portas, Passos tornou pública a evidência de quem considerava ser o número dois do Governo. E, pior, não houve da parte dos elementos do CDS mais relevantes o mínimo sinal de desacordo. As declarações prestadas, na ocasião, são a molde a entendermos que estão de acordo com esta notória exautoração.


Qual o papel de Portas e do seu partido nestas questões cruciais? Agora, o dr. Gaspar "Congela o Estado", na expressiva manchete do "Público" de quarta-feira, informando que quem manda no País e adjacências é o ministro das Finanças. A interpretação parece acertada. Ao dar ordem para que nenhuma instituição pública adquira um lápis, uma borracha, uma resma de papel ou um simples sobrescrito sem o seu aval directo, o dr. Gaspar toma uma decisão absurda, mas impositiva e esclarecedora de quem dá ordens e toma decisões em Portugal. Como da parte do CDS o silêncio nem sequer é equívoco, a concordância com a subalternidade do partido, pelo próprio partido, dá que pensar.


Para quem conhece não só o temperamento beligerante de Portas, mas, sobretudo o seu histórico político e cultural, esta cedência de lugar e de importância, em favor de outrem, neste caso o todo-poderoso Gaspar, permite as mais variadas especulações. Que domínio dispõe Passos de Portas, que poder impera, oculto ou astucioso, de forma a silenciar o ex-combativo político? Há algo de enigmático e de nebuloso na circunstância. E não é o chavão do "interesse nacional", certamente, que tem obrigado o presidente do CDS-PP a calar-se, ante invectivas desta natureza, que o desqualificam e inferiorizam publica e politicamente. Que se passa? Alguma coisa é.


Por outro lado, as impostações do dr. Gaspar, pelo disparatado e pelo insólito, começam a favorecer a ideia que corre, segundo a qual o homem está liru da cuca, para usar uma velha expressão do comentador Marcelo. Realmente, nada começa a fazer sentido, quando o dr. Gaspar fala ou age. Tudo isto parece uma maluqueira desgraçada, sendo que o pior ainda está para vir, e que os flagelados somos todos nós.


Não estamos no fim de um ciclo demencial: vivemos numa sociedade abandonada a si própria, e sob um Governo que tem, decididamente, o apoio descarado e escancarado do dr. Cavaco. Parafraseando uma personagem de telenovela, há anos interpretada por Nicolau Breyner: "Que mais nos vai acontecer?"


Os movimentos cívicos que se têm multiplicado, contra a natureza maligna deste Governo, encontram resposta nula; e, agora, até o dr. Cavaco sustenta, publicamente, que o Executivo tem todas as possibilidades de continuar o rumo determinado. O desemprego aumenta, os nossos miúdos, em percentagem galopante, sobrevivem quase na faixa da miséria, os suicídios aumentam, a juventude abandona o País, os velhos foram abandonados com implacável crueldade, e nada parece obstar a esta caminhada para a hecatombe. O PS não consegue arrancar da linha de partida e o seu dirigente máximo permanece, nas sondagens e nas aspirações populares, numa situação de mediocridade pungente.


Um livro estimulante de Maria de Belém Roseira

Estimulante é a palavra: estimula-nos aos prazer da leitura, quando tudo parece conspirar contra nós. "Mulheres Livres" é um texto magistral pelo que ensina, através da história de doze mulheres, a lutar contra o que, aparentemente, e só aparentemente, é inevitável. São mulheres, afinal comuns, que a excepcionalidade das suas lutas, das suas opções e da sua própria construção, elevaram à condição de exemplares. Elas enfrentaram tudo: a calúnia, a perseguição, o desprezo, a indiferença e a sobranceria. Mas, sobretudo, a sua condição de mulheres. "Não se nasce mulher; faz-se", disse-o, melhor do que ninguém, Simone de Beauvoir, uma das incluídas nesta excelente selecção. "Mulheres Livres" porque aprenderam (e ensinam-nos) a não desistir, mesmo quando tudo parece desmoronar-se à nossa volta. Maria de Belém devolve-nos, numa prosa cuidadosamente bela, a existência daquelas que nunca abdicaram de ser a grandeza da sua condição. Mulheres: as companheiras dos homens, as nossas incomparáveis. Leitura que recomendo com insistência, e magnífica edição da Esfera dos Livros. 



b.bastos@netcabo.pt


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