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Perspectivas sobre a dívida dos mercados emergentes

Os investidores começaram a encarar a dívida dos mercados emergentes como um ponto fulcral da sua política de investimento em activos estratégicos.

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Os investidores começaram a encarar a dívida dos mercados emergentes como um ponto fulcral da sua política de investimento em activos estratégicos. A maior solidez financeira, aliada à maior rentabilidade dos títulos, comparativamente aos mercados desenvolvidos, estimulou a procura da categoria de activos por parte dos investidores. Os novos investidores da categoria de activos viram-se recompensados em 2012, pois o rendimento fixo dos mercados emergentes proporcionou excelentes retornos, devido ao carry, à redução dos spreads e aos movimentos cambiais.


Em 2013, no entanto, até ao momento, os retornos dos principais índices da dívida dos mercados emergentes têm estado abaixo do previsto, apesar do melhor comportamento dos mercados globais em termos gerais. A componente de elevada rentabilidade do índice das empresas dos mercados emergentes tem apresentado o melhor desempenho, com retornos ligeiramente positivos da dívida em moeda local e um pequeno retorno negativo das obrigações soberanas em moeda forte. É de realçar igualmente que a confiança no risco tem privilegiado sobretudo os mercados desenvolvidos (nomeadamente as acções norte-americanas), em detrimento dos mercados emergentes.


Em termos de crescimento, a conjuntura melhorou a nível mundial, e os países emergentes acertaram novamente o passo com os países desenvolvidos, devido às melhores perspectivas de crescimento dos Estados Unidos, após a resolução da questão do "abismo fiscal". Os nossos principais indicadores económicos relativos aos países de mercados emergentes apontam para um regresso a uma tendência de crescimento na América Latina durante o segundo trimestre. Nas três regiões, os nossos indicadores apontam para um crescimento superior ao que ocorreu no primeiro trimestre. No entanto, notamos que o ritmo desta alteração já começou a abrandar. Na verdade, de acordo com a nossa avaliação actual, as expectativas de crescimento mais favoráveis já se fazem sentir nos preços do mercado. No entanto, continuamos a achar que o sector irá proporcionar valor no próximo ano.


O investimento continua a sustentar o desempenho
Este ano, até à data, o investimento em dívida dos mercados emergentes tem-se mantido a bom nível: estima-se um investimento da ordem de 17 mil milhões de dólares em meados de Março (estimativa da JP Morgan). Este investimento tem privilegiado as obrigações soberanas dos mercados emergentes e os fundos corporativos desses mercados, tendo como resultado um melhor desempenho relativo.

 

A crise da dívida soberana da Zona Euro tem servido para alertar os investidores para a importância de investirem em obrigações emitidas por quem mostre vontade e capacidade de pagar, e é provável que os mercados emergentes continuem a merecer esta preferência

Sem aparente surpresa, os investidores têm vindo a aumentar a proporção de dívida de mercados emergentes na sua carteira. Devido aos seus sólidos balanços financeiros e ao estado dos credores externos líquidos, as obrigações soberanas dos mercados emergentes passaram a ser encaradas como um movimento de "fuga para a qualidade". As obrigações de empresas dos mercados emergentes chegaram à maioridade, alcançando um patamar que rivaliza com os mercados norte-americanos de elevada rentabilidade.


Continua a diminuir o fosso existente entre as notações das obrigações soberanas dos mercados desenvolvidos e as dos mercados emergentes. Desde o início da crise financeira mundial, em 2007, a Moody's, a Standard & Poors (S&P) e a Fitch aplicaram 189 subidas de notação a 54 países de mercados emergentes. Em 2012, a S&P baixou a notação de nove soberanas da Zona Euro em Janeiro, e nos restantes meses do ano, a Moody's, a S&Pe e a Fitch aplicaram 41 reduções de notação a 16 soberanas de mercados desenvolvidos. Esta situação contrasta com as 26 subidas e 18 descidas de notação aplicadas a 54 soberanas dos mercados emergentes, o que significa que o rácio entre subidas e descidas de notação continua bastante superior a 1:1. Estamos em crer que, nos restantes meses de 2013, iremos continuar a assistir a esta convergência, dado que a pressão das notações negativas irá continuar a fazer sentir-se nos mercados desenvolvidos.


A base de investidores da categoria de activos tornou-se mais diversificada e tem apresentado um crescimento significativo, em parte devido à permanente entrada de investidores numa categoria de activos que, embora tenha, em termos médios, grau de investimento, proporciona aos investidores ganhos significativos em rentabilidade, comparativamente às alternativas existentes nos mercados desenvolvidos.


Para onde deverão virar-se os investidores?
Em todo o mundo desenvolvido, os bancos centrais continuam empenhados num processo de flexibilização quantitativa, pelo que a procura de rendimento irá certamente continuar. Como tal, é provável que a dívida dos mercados emergentes continue a ser uma categoria de activos com boa aceitação nos restantes meses do ano em curso. A crise da dívida soberana da Zona Euro tem servido para alertar os investidores para a importância de investirem em obrigações emitidas por quem mostre vontade e capacidade de pagar, e é provável que os mercados emergentes continuem a merecer esta preferência.


O nosso cenário principal para os próximos meses aponta para a continuação do que poderia descrever se como uma "nova" tendência de crescimento: uma retoma gradual, no seio da qual os bancos centrais mantêm uma liquidez excessiva nos mercados desenvolvidos, enquanto nos mercados emergentes tomam uma posição de neutralidade ou de ligeira quebra de taxas de juro (como ficou patente nos cortes das taxas de juro que ocorreram no início de Março na Polónia e no México).


Estamos em crer que a probabilidade de um aumento significativo do crescimento no segundo trimestre é menor do que a que antevíamos no início do ano. Embora a América Latina e a China apresentem maior crescimento, as questões políticas poderão restringir o crescimento nos Estados Unidos e na Europa. Tanto nos mercados desenvolvidos como nos emergentes, poderá haver erros em termos de estratégia política. Na Itália, por exemplo, devido aos resultados inconclusivos das recentes eleições, poderá faltar a força política necessária para a implementação de reformas, enquanto na China existe um risco de excessiva restrição.


A retoma do crescimento, aparentemente, já se está a fazer sentir nos preços do mercado, e, a nível político, poderão soprar ventos contrários no próximo trimestre. No entanto, os três sectores continuam todos eles a proporcionar valor, e o nível de investimento continua a sustentá-los. É provável que, no segundo trimestre, a importância dos retornos alfa iguale a dos retornos beta, mas ainda poderemos assistir a uma redução dos spreads e a uma valorização da moeda antes do final do ano.

 

 


Senior Sales Executive do JPMorganAM

 

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