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20 de Dezembro de 2013 às 09:43

Para todos um calórico Natal

É impressionante a capacidade que um ser humano tem para atafulhar criaturas no estômago durante a ceia de natal.

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É impressionante a capacidade que um ser humano tem para atafulhar criaturas no estômago durante a ceia de natal. O que pomos em cima da mesa da consoada, num dia normal, dava para alimentar Badajoz. E Badajoz ainda levava um tupperware, com restos, para dar a Elvas.


No Natal vai tudo. Parecemos ceifeiras a debulhar comida. É como se as pessoas tivessem recebido, de prenda, um casal de ténias do antigo tamanho do Malato. Já imaginei o que seria se o bacalhau fosse como frango. Se em minha casa já há discussão por causa da posta alta e posta baixa, o que seria se o bacalhau viesse só com duas pernas?! Haveria feridos. E lá ficavam os miúdos com as asas do bacalhau. Em minha casa, o bacalhau vem com tudo. E, quando eu digo com tudo, inclui duas norueguesas vestidas com couve, por causa dos dentes do avô. Eu gosto do meu bacalhau com arroz doce. Assim, salto logo para as prendas.


No meu Natal, também costuma haver canja de peru com massa de letras. É um clássico. Dá trabalho mas, com a colher, consigo mandar alguns dos meus familiares para sítios porreiros sem eles darem por isso.


Também é tradição haver uma coisa que é - a travessa de carnes frias. As mais fascinantes carnes frias são as mortadelas com chocapic de azeitonas em pickles. Parecem uma rodela, cortada, fininha, de uma perna de uma senhora com varizes. Não sei quem foi que se lembrou de decorar rodelas de porco com mais comida, mas é de certeza alguém que, na infância, comia sandes de banha com rodelas de ketchup. E deve ser a mesma pessoa que se lembrou de deitar confettis em cima de broas. Irritam-me estas pessoas que gostam de alterar o que estava bem. Têm sempre que adicionar mais qualquer coisinha. Como aqueles que põem fios de ovos à volta do bolo-rei. O bolo-rei é uma coisa de homem, maciça, não é para estar a juntar cenas da Accessorize.


Sinceramente, não tenho assim muito mais para vos dizer. Só de estar aqui nisto, já fiquei com um ratito no estômago. Felizmente, ofereceram-me uma fatia dourada para cama de casal e já não fico a seco até mais logo quando for buscar o peru. O peru é um bicho que comemos mais por causa do tamanho do que pelo sabor. É só porque é um bicho que matava um frango com uma patada e, nos outros dias, comemos frango. Porque a carne do peru, propriamente dita, é uma coisa que sabe a beliche. Talvez por isso, recheiam-no de comida com sabor. Mais uma vez, acrescentam comida à comida. Não chega comer uma ave do tamanho - e peso - dos dois netos mais novos, ainda lhe enfiam castanhas - e patés - onde antes estavam coisas que faziam falta ao peru para fazer um vida normal. Se o peru soubesse que, depois de morto, vai para a mesa com coisas que ele nunca comeu enfiadas no buxo, andava atrás de pavões enquanto era vivo. Que se lixe a fama se é para acabar assim.


Bom Natal para todos os leitores do Negócios e para a outra meia-dúzia.

 

 


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