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14 de Julho de 2015 às 12:11

Para onde nos leva a Revolução Digital ?

A primeira revolução industrial, que se iniciou em Inglaterra nas últimas décadas do século XVIII, caracterizou-se pela transição dos métodos de produção manual para métodos mecânicos. Cerca de um século depois, a combinação do ferro, do aço, dos caminhos-de-ferro e do carvão propiciou o advento da produção em série, que marcou a segunda revolução industrial.

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As duas revoluções, embora tenham feito vítimas, que perderam os seus trabalhos, criaram muitas oportunidades económicas em que novas ocupações vieram substituir as antigas. O investimento que os poderes políticos fizeram então na educação pública foi determinante para que os trabalhadores pudessem usufruir inteiramente dos benefícios da revolução industrial.

Vive-se hoje uma terceira revolução – a Revolução Digital- desencadeada pelo desenvolvimento de um vasto conjunto de tecnologias - a internet, a inteligência artificial, a robótica…- que alterou todos os aspectos da nossa vida. Transformou as relações afectivas, as relações sociais, a participação política, as relações económicas, a educação, a saúde, o trabalho, o tempo livre. Produziu inovações surpreendentes: veículos não pilotados por humanos, impressoras tridimensionais, robots versáteis que podem ser treinados em diferentes tarefas, telemóveis com múltiplas aplicações médicas, desde o otoscópio, ou o electrocardiógrafo, ao microscópio e ao ecógrafo. 

O Digital une as pessoas, ao apagar as distâncias, com os telefones móveis, as redes sociais, a actividade de "blogging" ou o ensino à distância. A vida digital é mais social que a vida real. Mas mais do que uma realidade virtual é, como diz Manuel Castells, uma virtualidade real, uma facilitadora da vida real. Transforma as práticas sociopolíticas, pois a mensagem, no sentido amplo do termo, deixa de fluir unicamente de alguns para muitos, passando a fluir de muitos para muitos. O Digital promove o envolvimento, a colaboração, o pluralismo e a acção colectiva. Um abuso pode ser rapidamente denunciado; uma manifestação pode ocorrer "online" e assumir, num curto período, e a uma ampla escala, uma força imensa. A comunicação encontra assim múltiplos canais horizontais, que promovem a formação de um pensamento colectivo e o exercício da democracia.

As transformações e inovações que acompanham a revolução digital, se por um lado são profundamente criativas, trazem também inevitavelmente algumas consequências negativas: o desemprego associado à automação maciça, a dependência da internet, a diminuição da privacidade, uma maior vulnerabilidade dos sistemas de segurança.

A estas consequências negativas devem, os poderes instituídos, responder com políticas adequadas: na educação e na regulação. A médio prazo os computadores aproximar-se-ão da capacidade do cérebro humano. Juntando a este facto a utilização generalizada dos robots e as consequências da crescente disponibilização de "Big Data", diferentes estudos[1] apontam que cerca de 50% dos postos de trabalho na indústria e serviços, nos Estados Unidos, se percam nas próximas duas décadas. Sem fazer ficção, uma ideia é hoje incontestável: a era digital exige competências diferentes. Os objectos e os processos, que a revolução digital nos trouxe, têm cada vez mais conhecimento incorporado, o que implica a necessidade de uma educação exigente, que combata a iliteracia, a inumeracia e a iliteracia computacional.

Mas para além da educação os poderes políticos deverão também promover a regulação, o que exigirá uma (difícil) convergência de vontades a uma escala global. O que está em causa não pode ser unicamente a inovação, o aumento da produtividade e a eficiência económica. São também valores civilizacionais e por essa razão as tecnologias em geral, e as tecnologias digitais em particular, não deverão estar para além de toda a regulação. O sucesso do automóvel não se ficou a dever exclusivamente à produção em série, mas também a um conjunto de medidas, que levaram à construção de estradas e de bombas de gasolina, à imposição da obrigatoriedade da cartas de condução, ao estabelecimento de regras de trânsito e à sua fiscalização.

A regulação das tecnologias digitais exigirá uma convergência à escala global, uma Aliança para a Inovação[2], que promova o desenvolvimento de infra-estruturas tecnológicas, legais e económicas.

Em Portugal, foram já dados alguns primeiros passos nesse sentido. O lançamento do Digital Media Forum Portugal, uma conferência internacional promovida pelo Secretário de Estado Pedro Lomba, em parceria com a ACEPI, é disso um exemplo. Mas para que o digital se torne o tecido conectivo de toda a actividade económica e cultural e constitua um sucesso, portador de benefícios sociais generalizados, urge conjugar uma política educativa exigente e uma política de regulação, a uma escala local e global.

 

Paulo Marconi é responsável pela estratégia corporativa da Associated Press e investigador em Harvard na área dos media. Naceu em Coimbra e trabalha em Nova Iorque.


[1] The Future Of Employment: How susceptible Are Jobs To Computerisation?, Carl Benedikt Frey , Michael A. Osborne

[2] What the Digital Revolution Means for Us, Dirk Helbing

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