Opinião
O alcance transformador da proteção social na economia
A Organização Internacional do Trabalho admite que o emprego cresceu na Europa de forma mais acentuada, mas tem sido suportada com "emprego sem qualidade".
As pessoas sem emprego há mais de um ano representam cerca de metade dos desempregados europeus, e a tendência é para que o fenómeno ganhe importância em determinados países. A destruição de competências do trabalhador tem naturalmente propensão a degradar-se durante longos períodos de desemprego, pelo que estas pessoas correm maior risco de pobreza e de exclusão social. O combate a este fenómeno mantém-se por isso como um dos principais desafios que a UE terá de enfrentar.
Os níveis de pobreza antes das transferências sociais não variam significativamente entre os países da UE, porém, tendo em conta o efeito das prestações sociais, observa-se uma variação bastante negativa dos níveis de pobreza. Como se pode constatar no quadro 1, o impacto das transferências sociais na diminuição da pobreza é muito desigual entre os vários países.
De acordo com o INE, em Portugal, desde 2010, a taxa de risco de pobreza aumentou de uma forma significativa e regular. Entre 2011 e 2013, só após o pagamento de todas as prestações sociais (incluindo pensões) aumentou de cerca de 18% para quase 20% da população.
Se não ocorressem transferências sociais, ou seja, antes do pagamento das prestações sociais quase metade da população portuguesa, mais concretamente 47,80% dos portugueses, que representa 4.944.145, estaria no limiar da pobreza. O número só desce para 2.016.963 porque existem transferências sociais. Mais, basta o pagamento de pensões, que se verifica logo uma redução para 26,70%, ou seja, remove de 4.944.145 para 2.761.688. Significa que, com as transferências sociais é possível retirar bastantes portugueses do limiar da pobreza que é de: 352,46€ por mês. Mesmo assim, é inadmissível que após as transferências sociais ainda continuem a viver na pobreza 2.016.963 portugueses, ou seja, 19,50% da população portuguesa.
Devido à inflação, nunca existe estabilidade de preços para os consumidores. Todos os anos se verifica a variação de preços nos bens essenciais tão indispensáveis à vida diária das famílias.
Perante um cenário de instabilidade económica, os problemas sociais tendem a aumentar, como o desemprego, a pobreza e a exclusão social.
É por isso que o reforço dos rendimentos das famílias mais carenciadas, através da melhoria dos apoios sociais e da reposição dos mínimos sociais nas prestações familiares assegura não só uma melhor coesão social como permite que a economia não paralise.
Estas medidas são consideradas como "estabilizadores automáticos", porque as pessoas, com tendência para o consumo, ao receberem as prestações sociais para compensar os rendimentos baixos permitem alguma manutenção dos níveis de poder de compra, dão suporte ao emprego e conservam a atividade de muitas empresas.
Contudo, e apesar do reforço da proteção social, que serve sobretudo para aliviar o fosso de rendimentos das famílias face ao limiar da pobreza, mesmo assim, não são suficientes para atingir o limiar da pobreza.
Licenciado em Gestão Comercial e Contabilidade da UFP
Mestre de Contabilidade e Finanças do IPVC-ESTG
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