Opinião
O maior buraco do mundo está a aumentar! Sabe onde?
Algo leva a pressentir um perverso e errado sistema económico, por detrás deste cenário de crescentes desigualdades. Os mais ricos, ficam dramaticamente mais ricos a cada minuto, e os lucros empresariais têm vindo a atingir records nunca vistos, levando a uma explosão crítica de disparidades.
Muitos autores nos têm alertado para os problemas das alterações climáticas e para os riscos de não os endereçarmos. Na verdade, já sabemos que o custo da inação é muito superior ao custo da ação, como Paul Poman (ex-CEO da Unilever) nos relembra de diversas formas.
Se isto é verdade, no reverso da moeda reside uma ameaça. Esta é, na verdade, "o maior buraco" que está a consumir Humanidade: o "Vírus da Desigualdade", como a Oxfam o apelidou em 2021.
No início desse ano, a Oxfam apresentou-nos um dos seus periódicos reports sobre a pobreza no mundo, que veio acompanhado de expectativas alarmantes: "O coronavírus tem o potencial de trazer um aumento da desigualdade em praticamente todos os países do mundo. Esta é a primeira vez que este fenómeno acontece, desde que existem dados recolhidos sobre pobreza".
Ao dia de hoje, com a covid-19 já (esperemos) no passado, os dados são elucidativos:
- As pessoas que representam os 1% mais ricos do planeta, acumularam 2/3 de toda a riqueza criada desde 2020 (42 triliões de dólares americanos). Este valor representa praticamente metade da riqueza que o resto dos 99% da população acumulou. Para além destes dados, sabemos ainda que, na última década, os 1% mais ricos do mundo capturaram metade da riqueza mundial criada (Survival of the Rich, 2023).
- 573 pessoas ficaram bilionárias durante a pandemia da covid-19, a uma taxa de crescimento de 1 novo bilionário a cada 30 horas. Em 2023 é expectável que 263 milhões de pessoas entrem na pobreza extrema, a uma taxa de cerca de 1 milhão a cada 33 horas (Survival of the Rich, 2023). Vê algum paralelismo nestes dados?
- 85% da população mundial irá viver com medidas de austeridade em 2023. Esta tendência continuará provavelmente até 2025, quando 75% da população mundial (129 países) estará ainda sob condições de austeridade (End Austerity: A global report on budget cuts and harmful social reforms, 2023).
- As empresas de alimentação e energia mais do que duplicaram os seus lucros em 2022, tendo gerado um retorno de 257 biliões de dólares para os seus acionistas. Segundo a análise da Oxfam pelo menos 1.7 biliões de trabalhadores no mundo viram o seu poder de compra diminuir em 2022, tendo dificuldade de garantir uma alimentação equilibrada às suas famílias e manter as luzes e aquecimento ligados (Survival of the Rich, 2023). Será que trabalhar ainda compensa?
- Outra investigação também revela que as empresas de energia, alimentação e farmacêuticas estão a conseguir lucros históricos, mesmo quando os salários dos colaboradores são cada vez mais reduzidos face à inflação e às consequências da crise da covid-19 e subsequentes. As fortunas dos bilionários das indústrias da alimentação e energia cresceram cerca de 453 biliões de dólares nos últimos 2 anos, o que equivale a 1 bilião de dólares a cada dois dias. As 5 maiores empresas de energia do mundo fazem cerca de 2 mil e 600 dólares de lucro a cada segundo (Profiting from Pain, 2022).
Não precisamos de elaborar muito sobre estes dados, certo? Mas algo leva a pressentir um perverso e errado sistema económico, por detrás deste cenário de crescentes desigualdades. Os mais ricos, ficam dramaticamente mais ricos a cada minuto, e os lucros empresariais têm vindo a atingir records nunca vistos, levando a uma explosão crítica de disparidades.
Se o leitor for um gestor, um administrador de uma empresa, ou até um "trainne" ou colaborador de base, como se sente ao ler esta realidade? Será que o único problema que temos em mãos são as alterações climáticas? O que faz a sua empresa nestas matérias?
São muitas questões! Mas que estas questões não nos cansem, mas nos motivem é meu desejo. Oxalá possamos fazer algo sobre este problema e colocarmos a nossa esperança e as nossas mãos ao trabalho, de forma a fazermos do nosso planeta um local habitável e que ofereça prosperidade a todos.
Como o Secretário-geral das Nações Unidas mencionou, ao entrarmos em 2023: "Este não é o tempo de nos sentarmos na beira da estrada, mas sim o tempo de tomarmos decisões, sermos determinados e (Sim!), ter esperança! Porque apesar das limitações e negras perspetivas do futuro, nós continuamos a trabalhar contra o desespero, a lutar contra a desilusão e a encontrar soluções reais (…) para a vida de todos!".
O maior buraco do mundo está a crescer nas nossas empresas e, por consequência, nas nossas sociedades. E o leitor, está a contribuir para este "grande buraco"?