Opinião
Investir na TAP para investir em Portugal
Deixar cair a TAP era abdicarmos de €3 mil milhões de exportações anuais e de €1,3 mil milhões de compras a mais de 1.000 empresas nacionais. Pior ainda, significaria entregar a outras companhias e a outros países o volume de negócios gerado por esta empresa portuguesa.
O setor da aviação civil foi o mais brutalmente afetado pela pandemia covid-19 em 2020. Disso fomos recordados nas últimas semanas, à medida que foram sendo conhecidos os resultados das companhias de aviação, com o registo de prejuízos históricos: €6,7 mil milhões no caso da Lufthansa; €7,1 mil milhões no da Air France-KLM, €6,9 mil milhões no do Grupo IAG e €1,23 mil milhões no da TAP.
As quebras de receitas da TAP e a redução brutal de passageiros transportados em 2020 estão em linha com o que aconteceu com as outras companhias de bandeira europeias. Não existe nenhuma particularidade portuguesa. Esta pandemia foi global e atingiu de forma avassaladora todas as companhias aéreas. A TAP transportou em 2020 menos 73% dos passageiros de 2019, o que gerou uma perda brutal de receitas (caíram 68%) que não foi possível compensar com uma redução semelhante de custos (não recuaram mais do que 38%), porque não é possível reduzir despesas com pessoal, aviões e manutenção imediatamente. O prejuízo de €1,23 mil milhões é um valor muito elevado, mas, por estar em linha com o previsto no plano de reestruturação, não obriga a qualquer entrada adicional de dinheiro público na TAP face ao previsto inicialmente.
O Governo português, tal como todos os restantes governos europeus, decidiu salvar a companhia de bandeira. Se para os outros países isto era importante, para um país periférico no quadro europeu mas central no Atlântico era ainda mais importante. Deixar cair a TAP era abdicarmos de €3 mil milhões de exportações anuais e de €1,3 mil milhões de compras a mais de 1.000 empresas nacionais. Pior ainda, significaria entregar a outras companhias e a outros países o volume de negócios gerado por esta empresa portuguesa.
No entanto, a reestruturação da empresa era uma necessidade, não só por causa da travagem brusca provocada pela pandemia, mas também por causa dos problemas e ineficiências que carregava do passado. Não estamos a proceder a uma reestruturação porque a isso somos obrigados pela Comissão Europeia (CE), mas porque é a única maneira de podermos ter uma companhia aérea eficiente e competitiva que possa sobreviver no futuro sem assistência pública.
O plano de reestruturação ainda não teve a aprovação final por parte da CE, mas, com a devida articulação com as entidades europeias, já está a ser implementado. A TAP não podia esperar. Esta reestruturação tem sido transversal às várias áreas da companhia, contemplando reduções com os custos de frota, fornecedores e trabalhadores. Assim, em 2020 a frota reduziu-se em nove aviões e dois foram adaptados para carga, tendo sido celebrado um acordo com a Airbus para adiar a chegada de 15 novos aviões. Por outro lado, desde o início de 2020 saíram 1.450 trabalhadores por não renovação dos contratos, mais 650 por rescisão por mútuo acordo. Ou seja, já saíram 2.100 pessoas.
Os acordos assinados com os 14 sindicatos no mês de fevereiro e a adesão de várias centenas de trabalhadores às medidas voluntárias propostas permitiram evitar o despedimento de perto de 1.500 trabalhadores. Infelizmente, a TAP ainda precisa de reduzir entre 400-500 trabalhadores de modo a obter a poupança necessária para que possa sobreviver. Este processo, que sabemos ser muito duro para os trabalhadores envolvidos e para as suas estruturas representativas, só ficará fechado no final de maio.
Tudo somado, entre poupanças com a frota, os fornecedores e com os custos laborais, a TAP já garantiu €2,9 mil milhões de poupanças previstas no plano de reestruturação.
2020 foi o ano em que a TAP, como todas as companhias aéreas no mundo, foi obrigada a fazer uma aterragem forçada, e o impacto da pandemia foi tão violento que teremos de viver com as suas consequências durante os próximos anos. 2021 é o ano em que começamos a preparar o futuro da companhia e, para esse efeito, as próximas semanas serão muito importantes: é durante este período que se perspetiva (i) a aprovação do plano de reestruturação pela CE, (ii) a estabilização do quadro de trabalhadores da empresa e (iii) a nomeação dos órgãos sociais que vão conduzir a TAP durante esta exigente reestruturação. Cumpridos estes passos, a TAP estará em condições de virar a página e prosseguir, com outra estabilidade, a implementação das mudanças necessárias.
Vamos dar o tempo e a confiança que a TAP precisa para se poder reestruturar, ficar mais eficiente e mais competitiva – e, dessa forma, poder continuar a servir a nossa economia e a ligar Portugal à Europa e ao mundo.