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11 de Outubro de 2020 às 17:20

Incumprimento no crédito: que desafios até ao final do regime de moratórias?

A venda de carteiras de NPL voltará a ser o mecanismo de eleição para libertar o balanço das instituições destas exposições, que consomem capital e recursos humanos e que limitam inevitavelmente a capacidade de crescimento, rentabilidade e reestruturação das instituições.

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Nos últimos anos, com o alívio proporcionado por um cenário macroeconómico estável, com crescimento, redução do desemprego e equilíbrio das contas públicas, assistiu-se a um acentuado processo de saneamento do balanço nos bancos Portugueses.

 

Este ambiente positivo permitiu, por um lado, incrementar o nível orgânico de recuperação de crédito e libertação de ativos Real Estate Owned, mas também acelerar a venda de carteiras de crédito e de imóveis em número de operações, em dimensão e em preço.

 

A pandemia associada ao novo Coronavírus e os regimes de confinamento social que daí resultaram, originaram, no entanto, uma "paragem" da economia com impacto significativo na solvência de empresas e famílias.

 

As quebras do PIB nos países desenvolvidos no segundo trimestre de 2020 não têm paralelo na história económica mundial e as medidas implementadas pelos diversos governos, incluindo Portugal, assentam essencialmente em programas de ajuda imediata ao emprego e moratórias de crédito.

 

Há, contudo, agentes económicos que, ainda que possam sobreviver no curto prazo, poderão não conseguir recuperar e restabelecer o equilíbrio económico e financeiro quando terminar o período do regime de moratórias, sendo expectável que haja um crescimento significativo ao nível do incumprimento de crédito e da percentagem de NPL (Non Performing Loans) no balanço dos bancos. 

 

Por ser uma realidade inédita, desde logo pela velocidade a que a entrada em incumprimento de crédito se desenrola, são necessárias novas medidas para atenuar o seu impacto. Os bancos portugueses precisam adotar estratégias ativas de recuperação de crédito e redução da atividade (deleverage), que protejam a base de capital e o valor acionista.

 

Num primeiro momento, o foco deverá centrar-se na criação de condições para a preservação do modelo de negócio dos clientes e da capacidade de solver os compromissos, através do acompanhamento próximo da evolução da atividade e do desenho de soluções financeiras que protejam o balanço das instituições financeiras e fomentem a recuperação do negócio.

 

Para tal é fundamental um conhecimento profundo do negócio dos clientes, a monitorização próxima da capacidade da geração de cash flows e o desenho de soluções financeiras ajustadas às necessidades específicas de cada cliente.

 

Mas é também fundamental identificar de forma imediata as situações irreversíveis, onde a prioridade é a preservação das garantias através de uma atuação rápida da instituição financeira na ativação dos mecanismos da proteção de credores disponíveis na legislação nacional.

 

Num segundo momento, a médio prazo, vai ser fundamental atuar em estratégias de "desalavancagem". As medidas anteriormente abordadas irão permitir reduzir os níveis de incumprimento e potenciar a recuperação imediata. No entanto, será inevitável o acumular de exposições não rentáveis que consomem capital e penalizam a conta de exploração dos Bancos. Neste cenário, a venda de carteiras de NPL voltará a ser o mecanismo de eleição para libertar o balanço das instituições destas exposições, que consomem capital e recursos humanos e que limitam inevitavelmente a capacidade de crescimento, rentabilidade e reestruturação das instituições.

 

Que não tenhamos dúvidas que se avizinham tempos desafiantes para as instituições financeiras em Portugal, na Europa e no mundo. A resiliência e a agregação dos recursos e competências adequadas, interna e externamente, serão uma vez mais fatores distintivos no sucesso das organizações, assim saibamos tirar o melhor partido deles.

 

Partner da Deloitte

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