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“Fake news” sobre a economia global, como estar preparado para a era da desinformação?

Notícias falsas ou mais conhecidas como “fake news” são um problema severo e real para governos e populações. Se a divulgação destas notícias facciosas ou incorretas também é encorajada por alguns políticos, como poderá então a população proteger-se?

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Na última década, a quantidade de "fake news" - representações falsas e imprecisas dos acontecimentos - e apresentação enganosa de dados evoluiu para níveis preocupantes. Há evidências sobre a difusão e impacto de divulgações com informações falsas sobre grandes eventos políticos nos últimos anos: as eleições americanas e o Brexit, são alguns exemplos paradigmáticos.

 

A propagação de "fake news" tem sido promovida pela importância que as redes sociais auferem no quotidiano da sociedade digital, sendo a taxa média de penetração das redes sociais na população europeia de aproximadamente 42%. Estar interligado com a nossa rede de contactos, bem como os nossos interesses sociais, políticos e pessoais faz parte da nossa rotina. Por esta razão, muitos jornais recebem mais visitantes provenientes das suas páginas nas redes sociais do que por via do website da sua empresa. Em segundo lugar, outro fator que tem contribuído para a divulgação de notícias falsas é a falta de confiança da população em tudo o que possa assemelhar-se a uma instituição, incluindo os meios de comunicação tradicionais. Nos últimos 20 a 30 anos, assistimos a uma dissipação gradual do elevador social no mundo e consequentemente a uma centralização de toda a riqueza no um por cento mais rico da população. Tal realidade advém de diversos fatores, que são exógenos a este artigo e fora do nosso foco, contudo, com a desigualdade a aumentar, muitas pessoas perdem a confiança na atual ordem bem como nas intuições clássicas, o mesmo se verifica na forma como consomem informação, refugiando-se nas redes sociais para obterem noticias sobre o mundo e provarem os "reality check-ups" que moldam a sua leitura da realidade.

 

Decorrente desta falta de confiança, a população começou a depositar excessiva confiança no que lê nas redes sociais - se o seu amigo partilha, ele é mais confiável do que o jornal detido por um qualquer multibilionário - mesmo que o artigo partilhado seja de uma página vincadamente politica ou de fundo satírico.

 

O problema não será resolvido fácil ou imediatamente: na maioria das vezes a única contrapartida que poderia combater as "fake news" tem interesses próprios e, portanto, poderia ser acusada de conflito de interesses. Além disso, dizer que "a União Europeia controla a forma das bananas que comemos" é mais rápido e mais fácil de entender do que explicar que a União Europeia apenas padronizou padrões qualitativos já estabelecidos por todos os países da União Europeia: uma vez que a UE é fundada sobre a livre circulação de bens e serviços, foram necessários padrões equivalentes para ter a mesma qualidade de bananas para França, Portugal, Espanha e todos os outros países.

 

A questão agora é: existe uma solução? Como posso identificar "fake news"? A resposta é não, não há uma solução fácil. Como mencionado, várias notícias falsas são baseadas em dados, geralmente corretos, que são mal interpretados e ou colocados noutro contexto, o que leva a uma interpretação completamente diferente da realidade. A economia é uma ciência social, o que significa que, ao contrário da matemática, um mais um nem sempre retorna dois. Por esta razão, é sempre uma boa prática duvidar de quem propõe soluções fáceis e prontas ("taxas de impostos mais baixas aumentarão os consumos e consequentemente os rendimentos do Estado!") e verificar que tipo de interesses movem a pessoa que fala ou partilha tal informação.

 

Em conclusão, hoje, mais do que nunca, conhecimento é poder e o acesso ao conhecimento nem sempre é fácil e confiável como foi nos anos passados. Duvidar de tudo o que lemos nas redes sociais é uma boa prática - nem sempre a certa (a terra é plana?) - e verificar a informação por si só pode ajudar-nos a compreender melhor uma realidade veloz e complexa.

 

Membro do Nova Investment Club

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