Opinião
Empreendedor em série, um activo a considerar em tempos de crise
Ser empreendedor em série, isto é, já ter fundado e gerido mais do que uma start-up, com maior ou menor sucesso, é uma característica e um perfil tipicamente valorizado pelos investidores em capital de risco.
A experiência acumulada nos empreendimentos anteriores, as cicatrizes resultantes das muitas batalhas e todo o network construído ao longo do tempo com os diferentes intervenientes - elementos da equipa, investidores e outros fundadores - são algumas das vantagens competitivas de um empreendedor em série. Existe uma expectativa, por vezes, gorada, refira-se, de que não sejam cometidos os mesmos erros do passado, ou se tiverem de ser cometidos que sejam resolvidos mais rapidamente. É consensual que uma experiência anterior numa start-up, tenha ela resultado em sucesso ou insucesso, é tão ou mais valorizada do que ter feito um MBA, mas mais cara e mais longa.
Os empreendedores em série são também uma peça importante na evolução e amadurecimento de um ecossistema empreendedor. Existe uma grande camaradagem e partilha de vivências entre os fundadores de start-ups, mais forte ainda em mercados mais pequenos como o nosso em que "toda a gente se conhece" ou se chega ao contacto rapidamente através de uma ou duas ligações de LinkedIn. Neste contexto, os empreendedores em série são muito procurados (pelas mesmas razões indicadas em cima - experiência e network) acabando em muitos casos por se envolver directamente ou indirectamente com algumas das novas start-ups que surgem no mercado, partilhando o seu conhecimento e apoiando no crescimento desses negócios. Se tiverem tido sucesso, o impacto pode ser ainda maior, uma vez que são ainda um exemplo de que é possível chegar lá e que todo o esforço e dedicação acabam por compensar.
Tendo, assim, presente este interesse por parte dos investidores e o impacto potencial na evolução do ecossistema, considero que os empreendedores em série poderão assumir um papel central durante este período conturbado em que vivemos e contribuir para que consigamos sair dele com fundações mais sólidas para o futuro.
Por um lado, uma boa parte da geração actual de empreendedores em série esteve presente durante a crise financeira de 2008/2009 (em Portugal, reflectiu-se mais seriamente um par de anos mais tarde), tendo muitos deles criado os seus primeiros negócios nesse mesmo período. Apesar de estarmos a viver crises de naturezas bem distintas, eles são os primeiros a saber como navegar situações muito adversas e tirar partido das mesmas para explorar novas oportunidades. Não só têm esse conhecimento como o transmitem às suas equipas e a outros empreendedores, assegurando a motivação e resiliência necessárias para avançar.
Por outro lado, é certo que existirão danos irreversíveis, que algumas start-ups não irão resistir e terão de fechar portas, mas serão também esses fundadores os primeiros a saber porque falharam, a identificar novas oportunidades de negócio e a voltar rapidamente para o leme de uma nova start-up. Foi assim no passado e noutros mercados mais maduros e estou convicto de que se passará o mesmo em Portugal.
Ser um empreendedor em série não é necessariamente sinónimo de sucesso e na Bynd Venture Capital apenas cerca de um terço do nosso portefólio actual de 33 empresas era liderado por empreendedores em série quando investimos inicialmente. No entanto, nos tempos de crise em que vivemos e ainda mais do que em outras alturas mais estáveis, os empreendedores em série são um activo com uma responsabilidade e um papel decisivos para a resiliência do ecossistema empreendedor em Portugal.
Partner da Bynd Venture Capital
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