Opinião
Comprimido vermelho ou azul: o Matrix e a automação nas empresas
É, portanto, notório que, para se prepararem para os próximos anos, as empresas precisam de aumentar o investimento na automação de processos e investir na formação e requalificação dos seus profissionais.
"Ao longo da história humana, temos dependido de máquinas para sobreviver". Em 1999, ano em que estreou o filme Matrix, estávamos longe de prever a grandeza desta dependência. Já imaginávamos os anos seguintes com contornos de futurismo, mas sem o nível de automação que temos atualmente. Quem se lembra do bug do milénio, recorda-se da pouca confiança que tínhamos nas máquinas e na informática.
Agora, estamos no apogeu das máquinas e da tecnologia: tecnologias como a Inteligência Artificial, a realidade aumentada e a automação não só estão completamente desenvolvidas e implementadas, como estão ao nosso alcance nas mais pequenas coisas, como na aplicação do banco, nos assistentes virtuais, ou nas aplicações de entretenimento.
Mesmo nas áreas menos esperadas, a automação e a robótica começam a dar cartas. Um exemplo é a utilização de robots em procedimentos cirúrgicos, nos EUA, tendência que se poderá acentuar com escassez de médicos.
E porque é tão importante esta aposta na automação? A automação é a área que desenvolve sistemas capazes de aprender e implementar as correções. Este processo permite ter maior controlo dos processos e maior escalabilidade e organização, redução do tempo de trabalho e os custos da atividade, e aumentar a produtividade.
No entanto, a automação e a introdução de máquinas como substitutos do Homem vêm acentuar ainda mais o desemprego e a desigualdade social. Nos EUA, o Federal Reserve Bank of Philadelphia analisou o impacto da automação em várias profissões, concluindo que a pandemia veio acelerar o processo de substituição do Homem pelas máquinas, afetando em especial taxistas, empregados de restaurante, condutores de transportes públicos e trabalhadores de manutenção de estradas.
Por outro lado, a inovação tecnológica é também responsável pela criação de muitos postos de trabalho. Quando se põem as máquinas ao serviço do Homem, realizando tarefas de repetição, as pessoas ficam disponíveis para tarefas que envolvam criatividade e pensamento crítico.
Em Portugal, cerca de metade dos trabalhadores desempenha tarefas rotineiras e de baixa qualificação, pelo que é urgente requalificar a força de trabalho. Um estudo da Nova Business of School & Economics e da Confederação Empresarial de Portugal analisou o impacto da automação no país e estima que existe ainda um potencial de automação de 50% e que, até 2030, cerca de 700 mil trabalhadores terão de alterar a sua ocupação ou investir na aquisição de novas capacidades.
Que comprimido vão as empresas tomar - o vermelho ou o azul?
Não é só uma questão de quão preparados estão os trabalhadores, mas também de quão preparadas estão as empresas. A automação é a peça fundamental da tão falada transformação digital nas empresas.
No filme Matrix, o protagonista tem duas opções: tomar o comprimido azul e continuar na ignorância, ou o comprimido vermelho e enfrentar a realidade. Para as empresas, a escolha é óbvia: quanto mais cedo for tomado o comprimido vermelho, mais depressa se conseguirão preparar para o futuro. É, portanto, notório que, para se prepararem para os próximos anos, as empresas precisam de aumentar o investimento na automação de processos e investir na formação e requalificação dos seus profissionais.
No início deste texto, citei Morpheus, uma personagem do filme Matrix. Muitos filmes de ficção científica foram feitos depois do Matrix e muitos continuarão a ser lançados. No entanto, poucos refletirão exatamente aquilo que empresas e trabalhadores poderão fazer da tecnologia: um aliado para um admirável futuro novo.