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Thebar Miranda - Presidente do Grupo Azevedos 22 de Julho de 2015 às 00:01

A política dos "campeões nacionais"

Todos conhecemos a política dos "campeões nacionais". A política da proteção, tratamento diferenciado e privilegiado que tiveram, durante anos e anos, determinadas empresas ou sectores considerados estratégicos para o desenvolvimento económico nacional.

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Todos sabemos e sentimos, também, a dimensão do fracasso destas políticas. É que, mais do que proteger setores e alavancar a internacionalização das empresas privilegiadas, a política dos "campeões nacionais" contribuiu fortemente para o enfraquecimento do restante tecido empresarial, tornando-o dependente de uma estrutura burocrática demasiado pesada e do recurso constante ao crédito bancário. A crise financeira expôs todas estas debilidades, com efeitos verdadeiramente trágicos para a economia portuguesa.

 

Hoje, sabemos que o caminho a seguir não passa por promover "campeões nacionais", mas antes por apoios transversais ao esforço de internacionalização das empresas, independentemente do setor em que atuem ou da sua dimensão. Face ao que passámos, sobreviver, crescer e internacionalizar são hoje credenciais, mais do que suficientes, para que uma empresa seja considerada um verdadeiro "campeão nacional".

 

Mas ninguém vive de títulos. Independentemente da sua história ou peso institucional. Tratar as empresas como "campeões nacionais" não chega. O que se exige hoje aos responsáveis e decisores políticos é que canalizem todos os seus esforços para a criação de um conjunto de apoios e instrumentos que garantam às empresas nacionais competir, em pé de igualdade, com as suas concorrentes estrangeiras.

 

Há quem diga que este é um conceito utópico. Que não faz sentido ter esta abordagem, particularmente quando grandes países continuam a estimular o protecionismo e a defender os interesses das suas organizações. Há, também, quem defenda que uma empresa de um país como Portugal nunca se poderá bater em pé de igualdade, por exemplo, com uma empresa alemã. "Nonsense".

 

Primeiro, porque incentivar um determinado setor em detrimento de outro é a pior mensagem que se pode passar aos empresários. Depois, porque tal como o prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, já defendeu várias vezes, acredito que são as empresas – e não os países - que concorrem.

 

Empresas que atuem num contexto administrativo simplificado, com uma elevada desburocratização de processos e políticas públicas que facilitem a criação de empregos e os processos de internacionalização, são mais competitivas. Mais musculadas. Em suma, são capazes de disputar posições de destaque em qualquer mercado, enfrentar qualquer concorrente, de qualquer país. Esta é a verdadeira receita para processos de internacionalização bem-sucedidos, para o crescimento das empresas, das exportações, da economia e do país.

 

O segredo não é defender "campeões nacionais" que acabam a lutar entre si no mercado interno. É olhar para todo o tecido empresarial como uma grande Seleção Nacional, que contribui de forma integrada para o crescimento da economia. 

 

Presidente do Grupo Azevedos

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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