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A tensão negocial da criação de um sindicato Google

É curiosa a notícia de que está a surgir um sindicato internacional de trabalhadores da Google. Ela traduz a união dos trabalhadores de diversos países face a um empregador, que é uma empresa global.

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Quando, no século XVIII, a revolução industrial surgiu no Reino Unido, a substituição da mão de obra por máquinas gerou receio nos trabalhadores em relação à sua perda de trabalho e/ou da sua desvalorização face à concorrência dos equipamentos.

Karl Marx refere em 1867 no seu livro “O Capital” que o que os sindicatos pretendem é evitar que o preço da mão de obra se torne inferior ao nível do seu valor. A dificuldade de definir qual o valor de um trabalhador era esclarecida por ele como o salário que era tradicionalmente pago na generalidade dos negócios e setores de atividade.

Este receio fundamentado da perda de força negocial dos trabalhadores acabou por levar à criação de associações de trabalhadores que, após alguns contratempos, levou à legalização dos sindicatos em diversos países, no final do século XIX e no século XX.

Em muitos países, a união dos trabalhadores ganhou um segundo e, posteriormente, um terceiro nível de maior “agregação”. Ou seja, os sindicatos de uma empresa passaram a juntar-se a grupos de sindicatos de setores e/ou funções e, posteriormente, ganharam ainda mais força negocial através da criação de confederações (ou denominações afins).

Em Portugal, durante muitos anos, a CGTP e a UGT destacaram-se ao nível das confederações. Recentemente, surgiram mais sindicatos independentes destas centrais sindicais, tendo tido grande visibilidade aquando da greve dos motoristas de matérias perigosas ou dos enfermeiros. Ao se tornarem independentes, perderam a força da união que lhes era dada pelas confederações, pelo que, de seguida, muitos sindicatos independentes acabaram por se procurar organizar numa União dos Sindicatos Independentes, para voltar a ganhar força negocial.

Ou seja, a força negocial é chave e a união traz essa força, o que explica muito destes movimentos e níveis de “agregação”.

É curiosa a notícia de que está a surgir um sindicato internacional de trabalhadores da Google. Ela traduz a união dos trabalhadores de diversos países face a um empregador, que é uma empresa global. Mas se esta tendência se confirmar (já também se fala da Amazon, entre outros), os trabalhadores ganham peso a nível da negociação com o seu empregador, mas perdem peso a nível nacional. Como será que esta tensão a nível dos trabalhadores entre ter peso negocial face a um empregador versus ter peso negocial a nível nacional se irá traduzir em Portugal e noutros países, num contexto de grande mudança a nível laboral, alavancada pela crise atual e pelo crescimento exponencial do teletrabalho?

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