Opinião
Afinal havia outra
Um grupo de 12 economistas fez, a pedido do PS, um conjunto de propostas económicas para os próximos quatro anos (mas é uma agenda para a década).
Um grupo de 12 economistas fez, a pedido do PS, um conjunto de propostas económicas para os próximos quatro anos (mas é uma agenda para a década). As propostas são diferentes das apresentadas pelo Governo no PE e, supostamente, tal como as do Governo, estimulam o crescimento, enquanto equilibram as contas públicas. Afinal, a economia pode ser tântrica.
Independentemente do valor da proposta, temos de saudar o seu aparecimento. Parecendo que não, está aqui uma alternativa! Ou seja, houve um milagre! Aleluia!
Durante anos, ouvimos dizer que não existia alternativa. Confesso que, quando este Governo - e a comunicação social em geral - veio dizer que não havia alternativa, foi o maior desgosto que já tive desde que descobri que não existia Pai Natal. Sempre pensei que havia, algures por aí, uma alternativa escondida num bosque de cogumelos altos à espera de ser encontrada. Tinha razão. Afinal, havia outra.
Peço que sigam o meu raciocínio, excepto quando ele for atrás de uma árvore fazer xixi. Ora, o aparecimento de uma alternativa produz outro milagre. O milagre da duplicação das alternativas, porque o que até ali era lei, pois não tinha alternativa, passa a ser, apenas, uma alternativa à alternativa que surgiu, e vice-versa.
A alternativa é um animal com uma capacidade de multiplicação extraordinária, até em cativeiro, pois a este novo casal de alternativas, podemos, agora, juntar todas aquelas alternativas, que não eram alternativa, porque eram demasiado alternativas para um país que não tinha alternativa. Essas alternativas deixaram, assim, de ser demasiado alternativas, uma vez que passou a haver uma alternativa que as torna menos alternativas, se comparadas com a não existência de alternativa; que é agora, também, ela própria, apenas, mais uma alternativa. Fui claro? Claro.
Posto isto, percebe-se a reacção dos partidos da maioria e do Governo. Passar a ser apenas mais uma alternativa, onde antes eram lei, é uma despromoção que causa incómodo. Compreende-se que venham reagir antes de ler a proposta porque, para eles, a proposta não existe. Não pode existir, porque não há alternativa. Nem que a alternativa aparecesse em cima de uma árvore, tendo como testemunhas três pastorinhos, eles acreditavam na sua existência.
O curioso é que, num momento posterior, quando finalmente assumem que ela talvez exista, de imediato dizem que, a existir, é obra do demónio e vai levar-nos ao inferno e ao diabo da troika. Curioso, porque o que, realmente, já não existe, é a troika. Ou seja, o Governo ameaça-nos com algo que não existe se seguirmos esta alternativa que não existia. Tudo acaba por fazer sentido no reino do faz de conta.
Dê lá por onde der, pelo menos que esta proposta sirva para, finalmente, acabar com a irritante pergunta que se tornou, à força, mera retórica para não haver debate: "qual é a alternativa? "No fundo, isto é o ponto final no 'sketch' dos Gato Fedorento: 'O papel? Qual papel?'". Calem-se com isso que o papel já apareceu.
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Top 5
Sem alternativa
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3 Gonçalo Reis, presidente da RTP: convite para a RTP foi "desvantajoso em termos financeiros" - não aceitavas. Ver e trabalhar com boazonas tem custos.
4 Trabalhadores da Inspecção do Trabalho fazem greve no dia 28 de Abril, contra falta de condições laborais - é mais simples chumbarem o local de trabalho na inspecção.
5 Governo diz que "os pilotos da TAP só se interessam por eles próprios". Que chatice. Não há um "daqui fala o comandante Gandhi e sua tripulação".