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The social dilemma - as redes sociais são o novo lobo mau e deviam terminar?

As redes sociais não vão a lado nenhum, estão para ficar. Mas da mesma forma que a indústria farmacêutica é regulada pelo impacto social que tem, também estas empresas têm de cumprir com regras estritas.

O novo documentário no Netflix “The social dilemma” pôs muita gente a falar e de repente levantou-se a questão, se calhar as redes sociais são más. E como habitual passa-se logo ao extremo, são péssimas e não deviam existir. Temos uma combinação incendiária ao incluir neste documentário pessoas que ajudaram a construir estas redes sociais (ex-empregados de Twitter, Facebook, etc.) e que fazem o seu aviso e mea culpa (seria curioso saber se algum deles doou o dinheiro que ganhou para combater o mal que ajudou a criar).

A questão não é nova e é muito importante. O documentário faz bem em levantar algumas questões, mas há que ir mais longe, mostrar os dois lados do problema. Se vier para fazer as coisas mudarem, bem-vindo. Se for só entretenimento e rapidamente passar ao próximo assunto de moda, então parabéns, Netflix! Curiosamente, esta empresa não vem mencionada no documentário, mas é das melhores a manipular dados (ainda que de momento não permita a compra de publicidade, mas pode influenciar opiniões com os programas e séries que recomenda).

O que mais me preocupa é o impacto. Ao não defender bem o argumento, vai mudar alguma coisa? Quantas pessoas diminuíram de forma permanente o uso de redes sociais depois de assistirem? Cada vez que sai uma notícia destas, muito ruído, mas o valor em bolsa destas empresas não pára de subir, nem o número de utilizadores. Várias marcas conhecidas a dizer que não anunciavam no Facebook durante um período, ou celebridades a suspenderem a conta por 24 horas? Realmente querem ter impacto? Fechem as contas permanentemente, mas claro que como o dinheiro é bom, só se faz por 24 horas. A mesma motivação de ganância pelas quais estas empresas estão a ser criticadas.

Sobre a pergunta “estaríamos melhores sem redes sociais?”, acredito que não, acho que o efeito líquido para a sociedade é positivo. Há muitas “fake news” e têm de ser controladas, mas ter um acesso mais generalizado à produção e difusão de conteúdos não vejo que seja pior do que ter certos grupos económicos que têm demasiado poder sobre os meios e podem perpetuar certas situações. Para além de muitos outros benefícios desde solidão, movimentos sociais e políticos, podem ser criados nas redes sociais com impactos positivos. Não há que ignorar o impacto nos suicídios e depressões, entre outros que o documentário menciona. E há ainda temas mais graves que ao não serem tão simples não são mencionados. Já repararam na mensagem no Instagram, que está a juntar as mensagens com as do Facebook Messenger e dentro em breve com o Whatsapp? Isto foi algo que Mark Zuckerberg tinha dito que era impossível quando comprou o último. Mas já está a acontecer e tiveram uma multa ridícula (tipo palmadinha na mão). Isto sim é um golpe grave na direção de um monopólio e abuso de dados do Facebook, mas que a maioria das pessoas ignora.

A legislação é crítica, complexa, porque falamos de conceitos de “bem” e de “mal” e de uma potencial censura que é muito perigosa. Estas empresas também não têm uma missão fácil. É fundamental desenvolver a educação, não só das pessoas como do sistema político, para poder legislar (não as audiências vergonhosas que aconteceram no Congresso dos Estados Unidos).

As redes sociais não vão a lado nenhum, estão para ficar. Mas da mesma forma que a indústria farmacêutica é regulada pelo impacto social que tem, também estas empresas têm de cumprir com regras estritas.

 

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