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Os países são os novos clubes de futebol

O Brexit surpreendeu-me, sem dúvida. Não tenho respostas para a emigração, para as guerras, ou para os problemas económicos.

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Só me parece, contudo, que num momento em que o mundo se globaliza e onde a colaboração é essencial, estamos a tentar usar soluções passadas e regionais para problemas futuros. Talvez não seja a melhor estratégia.

 

O princípio dos vasos comunicantes diz que dois copos ligados na base vão transferir líquidos entre eles até estarem os dois com o líquido ao mesmo nível (em equilíbrio). É semelhante aos princípios que regem o mercado, e a oferta e a procura. Se os chineses estão dispostos a trabalhar mais barato do que os americanos, a mobilidade de trabalho iria fazer com que os chineses emigrassem para os Estados Unidos até que os salários fossem iguais nos dois países. 

 

As fronteiras são uma forma de fechar esta comunicação e, artificialmente, de controlar a qualidade e o modo de vida em cada país. Há vários tipos de fronteiras, físicas, para controlar pessoas e bens, fiscais, para controlar fluxos de dinheiro, etc. O problema é que por muito populismo, as fronteiras já não funcionam como antigamente. Numa economia maioritariamente de serviços, com tecnologia que cada vez mais permite trabalho à distância, não deixar as pessoas entrarem no país serve de pouco. O controlo através do sistema fiscal e financeiro também deixou de funcionar, já que as transações se podem realizar em moedas como o bitcoin, fora do controlo de qualquer país. Os sistemas legais estão inadequados da evolução tecnológica dos últimos anos e ainda mais quando pensamos nos que estão para vir.

 

Que lei se aplica quando a Coreia do Norte não gosta de um filme da Sony (aconteceu com "A entrevista") e destrói o sistema informático desta companhia? A quem recorre a Sony? É um acto de guerra? Ou no caso de as apostas serem proibidas num país e as pessoas apostarem em sítios online localizados noutros países? Sem esquecer temas que podem transformar profundamente a humanidade e têm de ser controlados, como é o caso da engenharia genética ou a inteligência artificial.

 

Andamos assustados com os ataques terroristas, mas não ligamos tanto ao potencial bastante mais destrutivo dos ataques cibernéticos. Mais do que 100 pessoas (o que é uma tragédia), podemos estar a falar de milhões. Vivemos numa sociedade controlada pelo que é mediático, tipo Hollywood, e estamos a perder foco no que é prioritário.

 

Dada a evolução do mundo, o conceito de país cada vez menos tem sentido, e é usado para exacerbar um patriotismo que justifica a proteção de certos interesses. O Brexit ou a própria campanha de alguns políticos são exemplos disso. A estratégia utilizada é a mesma que se aplica a um clube de futebol, em que o foco é emocional e não racional. Estas estratégias foram explicadas no tribunal de Haia, por Goebel, o ministro da propaganda de Hitler e têm sido utilizadas ao longo da História por todo o tipo de líderes e fações. 

 

Um mundo global precisa de uma supervisão e ordem global. Criámos ferramentas que nos permitiram globalizar, mas não criámos as medidas de controlo. Mais ainda, procuramos olhar para o próprio umbigo e construir de novo muros da vergonha para fechar os países. Os nossos governantes têm de entender a importância destes temas e actuar.

 

Numa época de globalização com os desafios que a sociedade e a tecnologia trazem, nunca antes vistos, agarramo-nos a conceitos do passado? Estamos a "tapar o sol com a peneira".

 

Partner litsebusiness.com e professor de e-commerce e marketing digital na Nova SBE

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico   
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