Opinião
Cinco passas para o Ano Novo
Como economias mais fortes que a portuguesa provam, torna-se difícil assegurar ritmos de crescimento sustentável superiores a 1% com taxas de natalidade reduzidas quando não compensadas por saldos migratórios positivos.
Chegou o novo ano! No habitual rito de passagem, comem-se doze passas pedindo doze desejos para os próximos meses. Em vez de formular desejos para todos os meses de 2017, gostaria de elencar apenas cinco:
1. Há alguns anos, numa entrevista a este jornal, uma especialista em tributação, portuguesa radicada no Reino Unido, olhava os portugueses genericamente e considerava-os conservadores. Sendo a palavra conservador apresentada como sinónimo de conformado ou saudosista. Em inúmeras ocasiões, na apresentação de uma alteração ou uma inovação recorre-se ao paralelismo com uma posição perdida, oferecendo-se a novidade como uma forma de reposição. Frequentemente, as discussões enfatizam uma tentativa de regresso ao paraíso ou passado perdido em detrimento do avanço numa nova direcção: no sentido do desafio ou de assombro do inexplorado. É inelutável o desconforto causado pelo desconhecido. Assim, importa desafiarmo-nos, de olhos bem abertos, a pensar modelos novos para a estrutura produtiva, o financiamento, o mercado de trabalho, a produtividade, o ensino/formação,… Impõe-se uma posição menos conservadora face à mudança;
2. Portugal caracteriza-se por elevado nível de adesão e participação activa nas redes sociais; porém, o acesso a serviços por via electrónica encontra-se menos disseminado. Por exemplo, compras online ou a utilização da banca electrónica registam valores inferiores aos padrões médios europeus, contrastando com os níveis de acesso a redes sociais. A internet parece funcionar sobretudo como agregador social e emocional, subalternizando a dimensão mais económica. Porém, crescentemente, a faceta comercial da internet e da inteligência artificial ganha preponderância - dos carros autónomos, às mercearias sem caixas, passando pela consulta médica por algoritmo com auto-aprendizagem. A globalização, a automação da indústria, a digitalização dos serviços, as alternativas energéticas colocam desafios importantes à forma como uma comunidade se organiza, quer enquanto economia quer enquanto sociedade. É relevante que se saiba explorar as novas tecnologias na sua dimensão eminentemente prática, preparando-se melhor o futuro;
3. Num número recente, uma revista de referência anglo-saxónica publicou um artigo sobre "soft power", hierarquizando os países em termos desta forma de poder. Portugal surge classificado em 15.º (cito de memória) enquanto Espanha obtém a posição 12 num conjunto de cerca de cinquenta países. Cada país é brevemente analisado e feita uma recomendação. Para Portugal, a sugestão é: maior empenho ou esforço no de-senvolvimento e promoção da marca Portugal;
4. Como economias mais fortes que a portuguesa provam, torna-se difícil assegurar ritmos de crescimento sustentável superiores a 1% com taxas de natalidade reduzidas quando não compensadas por saldos migratórios positivos. É imperioso adoptar políticas de natalidade activas (existem vários países europeus, com abordagens variadas, com histórias de inversão/interrupção do declínio da natalidade) a par de medidas de estímulo a saldos migratórios positivos (v.g. atracção de imigrantes, preferencialmente com qualificações presentemente em falta no mercado de trabalho nacional);
5. A dívida portuguesa é elevada - é uma das mais altas do mundo em termos de PIB. Este resultado advém de significativos níveis de endividamento público e privado. Assim, importa actuar em duas vertentes (naquelas em que se detém algum controlo): aumentar a poupança e acelerar o crescimento num contexto de taxas de juro reduzidas, que poderão ter abandonado os seus patamares mínimos do ciclo. Muito feliz 2017!
Economista