Opinião
Oi, tudo bem? Não, tudo mal!
As últimas notícias da Oi, a empresa de telecomunicações brasileira, que dão conta de um pedido de restruturação da sua dívida, para muitos não são uma surpresa.
Nunca percebi porque na altura, o "management" da Portugal Telecom trocou um "automóvel" de alta cilindrada (Vivo) por um "automóvel" com muitas avarias e a necessitar de uma profunda revisão geral (Oi).
A Oi já era uma empresa muito endividada quando a PT entrou no seu capital social e era uma empresa ultrapassada em termos tecnológicos e de qualidade de serviço. Logicamente que com o decorrer do tempo e com a crescente crise que se vive no Brasil, a situação económica e financeira da empresa degradou-se até ao momento presente.
Em 2014, na altura do problema do BES/GES e que se refletiu em muitas empresas, especialmente na PT, tive oportunidade de escrever sobre aquilo que sempre considerei ser um erro estratégico o investimento na Oi.
Atendendo aos movimentos de concentração ocorridos no Brasil na altura, com o posicionamento forte de vários "players" internacionais, a Oi necessitava de uma restruturação profunda quando a PT passou a ser um acionista de referência.
Necessitava de fazer avultados investimentos para chegar ao nível tecnológico da própria PT e dos seus concorrentes no Brasil na época. Contudo, o seu nível de alavancagem não lhe permitia obter financiamento nas condições ideais.
O nível de dívida financeira face ao "cash flow" operacional (EBITDA) era muito elevado. O grau de cobertura dos encargos financeiros da dívida pelo resultado operacional e pelo "cash flow" operacional era muito baixo. Ou seja, a margem operacional e a margem financeira da empresa eram muito reduzidas.
Com os acontecimentos do verão de 2014 e dos meses seguintes, com o precipitar de diversas situações que levaram à reconfiguração do "management" da Oi e com o Brasil a entrar numa grande crise económica e também política, a Oi entrou numa espiral negativa antecipada por muitos analistas.
Mais uma vez, devido a erros de gestão, os pequenos investidores é que têm de suportar o fardo das fortes perdas dos investimentos efetuados.
Os que se opuseram à OPA da Sonae à PT, hoje, devem estar com a sua consciência bem inquieta. Na altura, vários analistas e personalidades que eram contra a referida OPA, disseram entre outras coisas que a Sonae queria comprar a PT para a desmembrar de seguida. Apoiaram o pagamento de dividendos significativos, uma das medidas de oposição à OPA, quando a empresa necessitava de continuar a investir fortemente em termos tecnológicos. Resultado: o endividamento começou a aumentar.
A Oi, ou o que levou uma empresa de referência em Portugal e na Europa a investir nela, é mais um caso negativo de gestão de empresas portuguesas neste século.
É por isso que os supervisores dos vários setores de atividade devem trabalhar no sentido de exigir um melhor governo das sociedades ("governance"). A transparência, a informação a tempo e horas, a existência de procedimentos claros, a realização de testes de cumprimento ("compliance") rigorosos, são indispensáveis para que situações tristes como esta não se repitam no futuro.
Economista
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