Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
26 de Outubro de 2021 às 17:07

Choque energético conjuntural ou estrutural?

A consequência da subida dos custos de produção está ou pode alastrar-se aos preços do consumidor e levar à subida de outros fatores de produção, como por exemplo os salários. E aí começaremos a habitual espiral de perda do poder de compra dos portugueses.

  • ...

A subida do preço da energia elétrica, dos combustíveis e do gás natural que temos assistido nos últimos meses tem sido significativa a nível internacional e sobretudo a nível nacional.

 

Os preços energéticos estão bastante acima dos níveis pré-pandémicos, o que de certa forma não se percebe, uma vez que as economias ainda não estão aos níveis do final de 2019 ou princípios de 2020.

 

Mas vamos aos números que são impressionantes.

 

Os contratos de futuros do WTI (petróleo) estavam em 4/10/2021 nos 80 USD por barril, quando em 21/02/2020 estavam nos 58,5 USD e em 24/4/2020 estavam nos 21,44 USD. Ou seja, o preço atual do petróleo está cerca de 37% acima do valor em 21/02/2020 (pré-pandemia).

 

No caso do gás natural, em 23/02/2020, o preço no mercado era de 1,68 USD e em 4/10/2021 era de 5,76 USD (acima do máximo dos últimos 4 anos registado em 18/11/2018 de 4,30 USD).

 

Ou seja, o preço do gás natural está 243% acima do que estava em 23/02/2020. E ainda estamos no início do outono no hemisfério norte. Quando chegarmos ao inverno, onde os consumos são mais significativos, o que poderá acontecer?

 

Finalmente, a subida do custo da eletricidade. No mercado ibérico, o custo atingiu em agosto o valor de 172 € por MW/h, cerca de 3 vezes mais que há 12 meses atrás. É uma subida impressionante num curto espaço de tempo.

 

Perante esta realidade, estamos perante um choque energético conjuntural ou estrutural? Naturalmente, as economias de uma forma geral ainda estão aquém dos níveis pré-pandemia. E por isso, esta subida especulativa poderá ajustar-se nos próximos meses à realidade económica e à normalização da produção, de forma a trazer os preços para níveis mais reduzidos.

 

Todavia, a subida da inflação é reflexo sobretudo desta subida do custo da energia, que poderá passar para os custos de produção industriais.

 

Em Portugal, a situação é muito negativa, uma vez que para além da subida das commodities energéticas, a carga fiscal sobre os combustíveis é elevada, sendo que o país apresenta dos mais elevados preços a nível europeu. O mesmo para o custo de eletricidade e do gás natural.

 

Até agora, os bancos centrais não têm demonstrado estar muito preocupados com a subida recente da inflação. Contudo, à medida que os meses passam, o caráter conjuntural começa a perder força.

 

A mudança recente do discurso dos bancos centrais traduz algum desconforto que começam a sentir. Contudo, esta alteração é positiva, uma vez que se deseja evitar uma situação idêntica à que aconteceu na década de 90.

 

Logicamente que hoje o nível tecnológico nada tem a ver com o dos anos 90, que o nível de organização produtiva é superior, que os ganhos de eficiência e produtividade são bastante mais evidentes e, por isso, o nível de preocupação com a inflação a médio prazo não é tão grande quanto aos valores que esta poderá atingir em termos médios.

 

A consequência da subida dos custos de produção está ou pode alastrar-se aos preços do consumidor e levar à subida de outros fatores de produção, como por exemplo os salários.

 

E aí começaremos a habitual espiral de perda do poder de compra dos portugueses.

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio