Opinião
O ciclo económico favorece quem governa
A discussão sobre a aprovação do próximo Orçamento do Estado vai marcar o Verão político. É a última prova de fogo desta legislatura, mas António Costa ainda tem a faca e o queijo na mão, porque tanto pode aprovar o documento à esquerda como à direita.
As incertezas políticas sobre o próximo Orçamento do Estado, o último da legislatura desta solução governativa, ameaçam marcar a novela política do Verão. Não faltarão exigências dos partidos de esquerda, ultimatos, cenas de ciúmes, como é normal em qualquer aliança política, ainda mais tratando-se da geringonça em que os parceiros tentam conquistar o seu mercado eleitoral, à custa do aliado.
Mas apesar de algum drama político, e de o Sul da Europa ser alvo de incerteza governativa, desde Grécia a Espanha, passando por Itália, António Costa ainda é o dono da bola.
Portugal ganha de facto com uma imagem de estabilidade nesta Europa meridional instável, mas se os partidos de esquerda baterem com a porta, arriscam entregar as chaves do poder ao PSD como parceiro secundário de um bloco central, novamente liderado pelo PS.
O que se passa na discussão da legislação laboral é a constatação de que o PS tanto pode namorar e casar à direita como à esquerda, em função das conveniências. O chumbo do Orçamento teria consequências negativas para a imagem de Portugal e poderia significar um aumento do prémio de risco da dívida portuguesa, mas a antecipação do ciclo eleitoral poderia beneficiar António Costa e o Partido Socialista.
A recente sondagem publicada no Correio da Manhã e no Jornal de Negócios mostra que o Governo perdeu no último ano parte do avanço esmagador que tinha face ao PSD. A evolução diz que o cenário da maioria absoluta, que era previsível até ao Verão de 2017, é agora cada vez mais longínquo, mas os socialistas ainda contam com uma vantagem de 9 pontos percentuais face ao partido rival. Ou seja, em situação normal a vitória nas legislativas dificilmente foge a Costa, graças à evolução do ciclo económico. Apesar de manter braços-de-ferro pouco populares e penalizadores de votos com grupos importantes da Função Pública, com destaque para os professores, a evolução da economia trouxe mais dinheiro às famílias e isso favorece sempre quem está no poder.
Os dados do Eurostat confirmam que a riqueza média das famílias já recuperou dos níveis pré-troika. Após a longa recessão, o PIB volta para os valores de 2008, embora o perfil da economia tenha mudado substancialmente.
Outro factor determinante na percepção do nível de vida das pessoas, num país com tanta gente endividada, particularmente com crédito à habitação, é o nível das taxas de juros. Apesar de a tendência ser de subida, até 2019 os juros manterão um nível de saldos. Não obstante alguns erros e omissões, António Costa tem o vento político a seu favor.
Saldo positivo: o exemplo de rajoy
Habituados na Europa a que ex-governantes sigam carreiras milionárias, desde cargos em grandes empresas, consultorias ou conferências ricamente remuneradas, o exemplo de Rajoy merece respeito. Afastado do governo espanhol, após uma moção de censura que aproveitou a condenação em sede judicial de dirigentes do Partido Popular, demitiu-se dos cargos partidários e voltou ao lugar que abandonou há 28 anos para se dedicar à política. Trabalha no registo de propriedade, em Santa Pola, Alicante.
Saldo negativo: os dramas das migrações
Nenhum ser humano fica impávido face aos dramas das famílias e das crianças na fronteira sul dos Estados Unidos, nem ao destino de milhares de migrantes deixados no meio do Mediterrâneo. Mas a solução não é fácil. Nem os Estados Unidos nem a Europa têm condições para acolher a enorme massa de gente que procura as suas fronteiras. E o que é hoje uma solução humanitária pode ser a prazo uma bomba-relógio que favorecerá, na Europa, o voto em movimentos xenófobos. E aí acabará a União Europeia.
Algo completamente diferente: Fernando Guedes, um senhor do vinho
Nasceu na Quinta da Aveleda e cumpriu o destino: foi um grande senhor do negócio do vinho. Sucedeu ao pai na liderança da Sogrape e internacionalizou a empresa com vinhas no Novo Mundo, desde a Argentina e Chile à Nova Zelândia. Fica associado ao Mateus, o vinho português campeão mundial em vendas, mas também à marca mais prestigiada do vinho português: Barca Velha. O seu legado é mais vasto do que estas duas bandeiras. A Sogrape é a empresa vinícola mais importante de Portugal, com um portefólio de grandes marcas e que factura mais de 215 milhões de euros no mundo.