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Mais gente a gozar com o nosso dinheiro  

O escândalo da Raríssimas é mais do que um caso de gestão danosa de uma boa obra. Revela ligações perigosas do poder político e do tráfico de influências, que em nome de uma causa nobre, delapida dinheiro dos contribuintes. 

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Paula Brito e Costa conseguiu cumprir um sonho e ajudar dezenas de famílias. A Casa dos Marcos é um projecto notável. Desgraçadamente a mulher responsável por tamanha  obra é também a pessoa que coloca a instituição em risco com uma governação nepotista, com demasiados indícios de gestão danosa.

 

Em causa está muito dinheiro dos contribuintes, o que também gera a dúvida se todo o dinheiro entregue às IPSS (Instituições Particulares de Segurança Social) tem a fiscalização devida. Se não fosse a investigação jornalística iniciada pela TVI, a Raríssimas mantinha a imagem de grande instituição e a sua presidente o estatuto de putativa protagonista de uma hagiografia.

 

A máquina da Segurança Social deixou por omissão desbaratar dinheiro público. Num país pobre, com muita gente necessitada e histórias dramáticas, o dinheiro público para a solidariedade tem de ser bem gasto e chegar às pessoas que precisam. Nunca podem pagar vidas luxuosas, carros de alta cilindrada, vestidos de alta-costura, ou até gambas por 230 euros. O Estado acaba por ser cúmplice da gestão danosa, mas para isso contribuíram os políticos, principalmente do Bloco Central, que deram o seu aval, sem se preocuparem com a realidade das contas da instituição.

 

Ninguém é inocente. A fundadora soube-se reunir de pessoas influentes e poderosas, mas houve políticos que beneficiaram com este esquema.

 

Desde o ministro da Segurança Social, que embevecido inaugurou uma placa com o seu nome no hall da instituição, até à sua mulher, deputada socialista Sónia Fertuzinhos, que fez uma viagem à Suécia, em representação da entidade, para não falar do ex-secretário de Estado da Saúde, contratado como consultor, revelando mais uma vez a visão estratégica de Paula Brito e Costa, que antecipava o regresso socialista ao poder, prometendo que Manuel Delgado geraria "muito guito". Era esta a mensagem da presidente ao seu tesoureiro com a contratação de Delgado.

 

Não se sabe se o secretário de Estado que se demitiu depois da investigação da TVI revelar que podia haver algo mais do que consultoria de gestão na ligação entre o antigo governante e a fundadora da associação conseguiu mais guito, mas se não fosse a torneira dos subsídios públicos sem controlo, seria mais difícil financiar a viagem ao Rio de Janeiro.

 

Não são os primeiros a beneficiar de férias à conta de fundos públicos. Lamentavelmente há demasiadas pessoas a gozar à conta do nosso dinheiro.

 

Saldo positivo: Amancio Ortega

 

O empresário galego que começou por fabricar batas e acabou como um dos homens mais ricos do mundo. Construindo um grande império têxtil, está a deixar a gestão das empresas. Sendo a indústria têxtil uma das mais fortes em Portugal, e várias fábricas exportam para marcas da Inditex, é uma pena que este país não tenha tido nesta área um empreendedor com o mesmo sucesso global, nem tenha havido nenhuma portuguesa lusa com a dimensão da Zara.

 

Saldo negativo: Vieira da Silva

 

O ministro da Segurança Social era um dos homens mais fortes do Governo até se conhecer o escândalo das Raríssimas. Mas Vieira da Silva pactuou vários anos com a gestão luxuosa da presidente da instituição. Como membro da mesa da assembleia-geral deu aval às contas de uma associação que recebe dinheiros públicos e que tinha uma gestão pouco rigorosa. Tem o seu nome no hall da Casa dos Marcos, o que acaba por ser uma ironia neste escândalo.

 

Algo completamente diferente: Nova escolha reforça linha endogâmica do Governo.  

 

O organograma deste Governo é cada vez mais parecido com uma árvore genealógica. Não está em causa o perfil, nem a qualidade técnica das pessoas, mas a escolha de Rosa Zorrinho, mulher do eurodeputado Carlos Zorrinho, para secretária de Estado da Saúde reforça uma linha que já se notava. Há endogamia neste executivo, que se candidata a ser o Governo da História da República com mais ligações familiares. O percurso de Zorrinho mostra ainda a vantagem de pertencer à elite do partido. Aos 28 anos, a socióloga já era administradora de um hospital público. 

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