Opinião
Dois banqueiros, um destino
José de Oliveira Costa e Ricardo Espírito Santo Salgado têm origens bem diferentes. O antigo patrão do BPN, de família modesta de Aveiro, foi um fura-vidas, e acabou como cabecilha de um grupo que vai custar mais de sete mil milhões de euros aos contribuintes portugueses.
Ricardo Salgado é nove anos mais novo, nasceu em berço de ouro em Cascais, chegou a dono disto tudo durante mais de uma década e acabou por protagonizar a ruína da mais antiga e poderosa dinastia financeira do país. Oliveira Costa já foi condenado e enfrentará agora uma longa e dispendiosa maratona de recursos judiciais, que poderá evitar a cadeia. Ricardo Salgado é arguido em vários processos.
Quando rebentou o escândalo BPN, a elite financeira do país lançou a narrativa da separação do trigo do joio. O BPN era uma espécie de banco mal frequentado e os outros bancos eram totalmente diferentes. Afinal de contas, entre os casos de polícia do BPN e os que meia dúzia de anos depois foram conhecidos no universo do império Espírito Santo, a diferença é apenas na arquitectura mais elaborada no GES e algum verniz. Na essência, os esquemas são muito semelhantes.
Oliveira Costa construiu um grupo aproveitando o conhecimento que o dossiê dos perdões fiscais, enquanto foi secretário de Estado com a tutela dos impostos, lhe proporcionou. Era uma espécie de banco de investidores com dinheiro, maioritariamente novos-ricos, espalhados pelo país e com ligações a barões da política.
A família Espírito Santo era a dinastia financeira do país e os seus aliados constituíam a maioria da aristocracia nacional.
Com personalidade e percursos pessoais, familiares e profissionais tão diferentes acabam por ter um fim de carreira semelhante. Os dois banqueiros, figuras de proa dos maiores escândalos financeiros do país, partilham o mesmo destino: arriscam a passar os últimos anos de vida num duelo incessante com várias instâncias judiciais.
Director-adjunto do Correio da Manhã