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Do drama à comédia de enganos

A discussão política sobre o Orçamento do Estado para 2021 começou com ameaça de crise política por parte de António Costa, que em menos de dois meses, já alterou a narrativa em 180 graus. Os partidos de esquerda não ganham nada em criar uma crise política este ano.

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António Costa, antes das negociações sobre o Orçamento do Estado para 2021, tentou dramatizar a aprovação deste documento fundamental. Em entrevista ao Expresso, assumiu que haveria uma crise política se a esquerda chumbasse a proposta do Governo. Mas ainda não passaram dois meses sobre esse alerta e em nova entrevista, desta vez à TVI, afasta o cenário de crise política: "Tudo farei para poupar o país a qualquer tipo de crise ", disse, admitindo o cenário de duodécimos, em caso de chumbo orçamental, apesar de não querer "governar aos bochechos".

 

Quer a dramatização do final de agosto quer o registo mais contido desta semana parecem manobras psicológicas para condicionar os parceiros de esquerda. É que Costa não precisa do voto favorável dos antigos aliados da geringonça ao Orçamento. Basta a abstenção dos partidos de esquerda para os votos do PS serem suficientes para a aprovação do documento.

 

Quem levasse à letra as declarações de António Costa no final de agosto seria tentado a acreditar que o Orçamento do Estado para 2021 seria um filme de "suspense" digno de Hitchcock, mas na verdade não passa de uma comédia de enganos, mais próxima dos filmes portugueses da década de 1930 e 1940, mas sem o talento na representação de Vasco Santana ou António Silva. Parece muito barulho para nada, porque o resultado deste enredo é previsível.

 

O Governo dará aos partidos de esquerda algumas migalhas que podem servir de bandeiras políticas, como a nova prestação social de apoio a quem perdeu rendimentos, contratações para o Serviço Nacional de Saúde e mais alguns detalhes na discussão na especialidade.

 

Em véspera de presidenciais e no meio da maior crise sanitária da história recente, acrescentar uma crise política era abrir uma caixa de Pandora que, a julgar pelas recentes sondagens, prejudicaria mais os partidos de esquerda do que o PS e abriria caminho para a ascensão do Chega no Parlamento.

 

Mas o enredo deste ano torna mais difícil as negociações do outono de 2021 para o Orçamento de 2022. E essa discussão coincide com as eleições autárquicas, que têm toda a probabilidade de se tornar em verdadeiras primárias para as eleições legislativas.

 

Saldo positivo: João Almeida

Ontem nos Alpes o ciclista de A dos Francos, Caldas da Rainha, perdeu a camisola rosa, símbolo de líder da Volta a Itália. Mas o Giro ainda não acabou e ninguém lhe retira o mérito de andar duas semanas na frente de uma das grandes voltas do ciclismo mundial. E mostrou fibra e estofo de herói resistindo em várias etapas. 

 

Saldo negativo: terror na Europa

A decapitação de um professor de Francês, às mãos de um terrorista islâmico é um sinal assustador para todos nós. O professor que defendeu a liberdade de expressão numa sala de aula foi vítima de fanáticos que ameaçam o nosso modo de vida. Quando em 2015 o Charlie Hebdo foi atacado devido a umas caricaturas de Maomé, o mundo respondeu com o "Je suis Charlie". Samuel Paty, o docente vítima do ataque bárbaro, também deve ser lembrado.

 

Algo completamente diferente: as promessas repetidas que nunca passam do papel

 

A propósito dos novos investimentos ferroviários, a manchete de ontem do jornal Público foi idêntica, como o próprio jornal recorda, à manchete de 6 de julho de 1999, quando António Guterres era primeiro-ministro. Ligar Lisboa ao Porto em 1h15 é uma ambição antiga, sucessivamente prometida e ainda longe de se concretizar. Agora com os milhões da "bazuca" o assunto volta à ordem do dia. Mas será desta?

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