Opinião
E França aqui tão perto
A leitura dos resultados eleitorais em França é difícil tal o equilíbrio verificado entre as "forças do bem" e as "forças do mal". Tendo acompanhado em Paris as reações que se lhe seguiram, confesso que me custa entender a alegria com que os resultados foram recebidos.
Ainda que a vitória de Macron na segunda volta pareça assegurada, Marine Le Pen não deixará de reforçar a sua posição, ancorada no forte descontentamento do povo francês face à realidade europeia e à total incapacidade de sucessivos governos responderem às suas principais inquietações.
Macron foi o menos mau dos candidatos do centro político e isso deu-lhe a vitória. Mas este jovem político nascido em 1977 no Norte de França é politicamente difícil de definir. Nasceu no socialismo, revela grande proximidade com os gaulistas e foi o ministro de Economia mais liberal dos últimos anos.
A sua aparente independência dos partidos do sistema resulta de ter ganho alguns milhões de euros em operações que a esquerda portuguesa não hesitaria em classificar como capitalismo-abutre. Aquele que é conhecido como o "pequeno Rothschild" recebeu o apoio entusiástico do atual Presidente Hollande, foi financiado pelos principais grupos económicos franceses e foi "puxado" por uma comunicação social por eles controlada. Obteve apenas 23% sem brilho e sem conseguir criar uma onda de mobilização em torno da sua candidatura.
É impossível antever o que aí virá. Com umas eleições legislativas a caminho nem o sistema maioritário a duas voltas o irá proteger de um "centrão" autofágico e organicamente desfeito e de uma força antissistema que à direita e à esquerda não para de crescer.
A vitória de Marine seria um duro golpe para o projeto europeu. Mas a eleição de Macron será a garantia de que tudo continuará na mesma e que por isso os movimentos populistas se irão tornar cada vez mais populares. Afinal parece que ficámos todos a perder.
Jurista
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico