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IA: Mármore em piloto pioneiro para extrair vantagem competitiva
Um digitalizador de blocos de mármore que, através de IA, vai prever o interior antes do corte promete abalar a indústria da pedra natural. Projeto descrito como raro no mundo deve partir para a escala industrial em 2026.
A indústria que trabalha a pedra natural, dos mármores aos granitos até aos calcários, tem um admirável novo mundo pela frente com a inteligência artificial (IA). Engenheiros do Instituto Superior Técnico desenvolveram um digitalizador de blocos de mármore até 25 toneladas que, através de IA, vai prever a sua textura interior, antecipando as cores e os desenhos dos veios que as placas poderão apresentar depois de cortadas. Um feito inalcançável pelo ser humano que promete elevar a capacidade competitiva da indústria da pedra natural a outro patamar – dentro e fora de portas.
“Só conseguimos saber como vão sair as chapas – as fatias que o bloco vai dar – quando efetivamente o serramos. Fazemos o corte pela experiência, pela observação com os nossos olhos que nos dá uma ideia do que estará lá dentro. Mas, obviamente, temos sempre surpresas e boa parte negativas – nunca é tão bom como pensamos”. Este “dia a dia” que Paulo Diniz, administrador do Grupo Galrão, descreve parece, porém, ter os dias contados, graças a um sistema desenvolvido pelo Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos (DER), do Instituto Superior Técnico, que está a ser testado à escala laboratorial.
Isto porque “a IA vai permitir, de uma forma mais eficiente, criar modelos matemáticos que façam a previsão do interior a partir do que vemos nas faces exteriores dos blocos que têm dimensões muito grandes”, explica o vice-presidente do DER, Gustavo Paneiro, afiançando que o recurso à IA para “prever características visuais tão importantes no contexto da construção civil” se não for pioneiro é pelo menos raro na indústria em todo mundo: “Do estado da arte que analisamos, inclusivamente com IA, não conhecemos qualquer técnica que proponha uma solução deste tipo”.
Escala industrial em 2026
Os testes em ambiente industrial decorrem na fábrica do Grupo Galrão em Pero Pinheiro, em Sintra, sede da empresa familiar com 70 anos de história. “Fizemos miniblocos e fotografámos todas as faces. Depois fatiaram-se e fotografaram-se essas chapas, alimentando-se o algoritmo para poder ser mais fiável”, conta Paulo Diniz. Além de “poupar na matéria-prima, atendendo a que passa a haver menos erros”, a IA vai oferecer, “quase de forma instantânea, um catálogo virtual gigante”.
Especialista do Instituto Superior Técnico
Está previsto que os ensaios durem até ao fim de 2025, para que, no ano seguinte, se arranque para a escala industrial, “ainda que provavelmente com um protótipo”. E as expectativas são elevadas. “A aplicação a uma escala industrial vai permitir à indústria ter uma vantagem competitiva relativamente aos concorrentes nacionais e internacionais”, diz Gustavo Paneiro, indicando que o projeto, inserido numa agenda verde do PRR, envolve também os grupos A. Bento Vermelho e Marmocazi, que trabalham igualmente grandes pedreiras no Alentejo, e duas tecnológicas especializadas em pedra natural (Sevways Portugal e FrontWave).
“A IA vem abrir um caminho que tem muito para percorrer. Há um monte de possibilidades para ajudar na produtividade. Há um monte de sonhos possíveis de concretizar”, desabafa o administrador do Grupo Galrão que tem levado pedras por si produzidas ou trabalhadas a grandes obras emblemáticas em todo o mundo, como o Museu do Louvre, ou a mais pequenas mas com “graça” como a casa de Charles Aznavour em Paris.