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Telemática é determinante no futuro dos seguros

A evolução do setor segurador nos últimos sete anos passou a ser marcada pelas tecnologias de informação e pela gestão de dados, que cada vez mais influenciam a forma como se encara o risco e desafiam a forma como se pensa a atuação no futuro.

11 de Abril de 2019 às 15:30
Miguel Mamede diz que há uma grande oportunidade para a aposta na inovação e diferenciação de produto. David C. Santos
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"A telemática vai ser determinante no futuro dos seguros", afirmou Miguel Mamede, account manager da baseline, keynote speaker do Live Lab, integrado na 6ª edição de "Os Seguros em Portugal", que se realizou a 2 de abril, em Montes Claros, Lisboa. Ligado à indústria de seguros há cerca de duas décadas, com passagens pela Crédito Agrícola Seguros, Axa, Ageas, foi fundador do Comparajá, onde é administrador e é acionista do CompareEuropeGroup.

O que é a baseline

A baseline é uma insurtech com sede em Laval, Québec, Canadá, que trabalhou ao longo destas duas últimas décadas com cerca de 20 companhias de seguros, em mais de 12 países. A base do negócio passa pela disponibilização de soluções de telemática, com especial foco no setor automóvel. Está em Portugal para o desenvolvimento de novo negócio, e dar suporte aos clientes na Europa e na América Latina. Os principais objetivos em Portugal passam, segundo Miguel Mamede, International Account Manager, por "evangelizar o mercado no contexto de Usage Based Insurance (UBI) e alargar o seu leque de clientes na Europa, com especial foco em Portugal".


Baseando-se num estudo da Willis Towers Watson sobre penetração de componentes de telemática e de dados no mercado segurador num horizonte de cinco anos, referiu que "90% da forma como subscrevemos o risco, como fazemos o pricing, vai ser baseada em tecnologias. A própria subscrição irá mudar e, em 80% dos casos, irá apoiar-se muito, não na componente de análise retrospetiva, mas na avaliação em tempo real da forma como os utilizadores, os segurados se comportam perante o risco".

User experience

Os produtos de telemática vão impactar os portefólios dos seguros e vão ter influência sobre a alteração de comportamento do consumidor e a componente de gestão de sinistros, e vão passar a ter um maior peso no portefólio das seguradoras. "Duas ou três seguradoras poderão já ter produtos suportados neste tipo de tecnologia, e vejo que a penetração a cinco anos pode chegar aos 88%, de facto os próximos anos vão ser de muita atividade", referiu Miguel Mamede.

O engagement dos utilizadores

Não basta lançar a app para que haja downloads, mas se a app e o interface agradarem, podem ajudar na propagação da informação junto de outros utilizadores. Mas depois é preciso criar uma relação, em que a gamificação tem um papel importante, até "chave para ter um user engagement", refere Miguel Mamede.

Para que o engagement funcione, é preciso ter estratégias de curto prazo e de médio prazo. No curto prazo, para que se mantenha o engagement com os utilizadores, tem de se premiar e criar mais momentos de verdade, entre as seguradoras e os seus clientes, o que é mais difícil controlar na rede de agentes.

No médio prazo, as oportunidades surgem nos momentos da aquisição ou da renovação, em que se podem beneficiar os utilizadores, o que pode passar por um desconto para que haja engagement.


No que toca à user experience neste campo, diferenciou-a da que se tem com entidades como a Google, a Apple, o Facebook, às quais se cedem dados e informação mas sem "um benefício tangível pela utilização ou partilha dessa informação".

Nos produtos com base em telemática "há, à partida, um benefício para quem adota uma solução deste género face à partilha de informação. Há um trade-off positivo entre a partilha de informação e o benefício que se pode obter". Referiu que com a atual tendência do consumo, "se vai chegar a 3 wearables por cada habitante do planeta, tendo em conta as disparidades sociais e económicas -, imagine-se a quantidade".

Coberturas e features

"Neste cenário há uma grande oportunidade para alguma aposta na inovação e na diferenciação de produto", considerou Miguel Mamede. "Passa pela componente tecnológica, com a captura de dados, inteligência artificial e machine learning, a componente de user experience e user interface, que existem entre clientes, atuais e futuros, e, finalmente, a evolução na forma como o risco é subscrito". No caso do seguro automóvel, o modelo de subscrição "vai ter uma grande evolução e a equipa de subscrição vai ser completamente diferenciada da equipa que temos atualmente".

A user interface é mais um desafio para a gestão de produto, no caso de automóvel, de vida ou saúde e para multirriscos. "Não se fala sobre as coberturas, que acabam por ser muito semelhantes, pois o fator de diferenciação será a interface que se tem com os clientes. Deixa de se falar das coberturas e passa a falar-se de features, das funcionalidades que uma app poderá potenciar para cada um dos utilizadores e conseguir atrair para o produto", assinala Miguel Mamede.

Acrescenta que "é uma viragem estrutural em cada uma das seguradoras. A equipa técnica e de marketing vão ter de se focar muito mais na potenciação da user experience do que na gestão das próprias coberturas, dos produtos".

Miguel Mamede referiu ainda as mudanças com a tendência, por exemplo, da adoção da Car as a Service, que muda a atual avaliação equitativa entre os dados do condutor e os dados do veículo, com o peso a aumentar para a componente do veículo e menos para a forma como o condutor assume o risco e dirige o veículo.

"Cada vez mais a interface vai ser feita pelo mobile first, o produto passa a ser oferecido através de apps e com menos peso das redes de distribuição tradicionais, mas estas podem ser potenciadoras do aumento da penetração destas apps", salientou Miguel Mamede.

Os Seguros em Portugal com Gabriel Bernardino

A conferência anual Os Seguros em Portugal, organizada pelo Jornal de Negócios, vai contar Gabriel Bernardino, Presidente da EIOPA (European Insurance and Occupational Pensions Authority). Este ano, o debate centra-se, em temas como o Desafio digital e a transformação operacional, a Cibersegurança, a IFRS 17, a Economia partilhada e distribuição P2P, os Seguros de saúde e as alterações demográficas, as Alterações climáticas ou Insurtech e regtech. A conferência vai ter lugar a 10 de Maio, das 9H as 13H, em Montes Claros, Monsanto, Lisboa. 



A inovação tecnológica é disruptiva, em particular para o setor de seguros. Impulsiona o crescimento por meio de novos modelos de negócios, que exigem novas competências, governance adequada e supervisão.

A segurança cibernética e o ciber-risco são tópicos no topo da agenda de qualquer organização e da sua gestão. A segurança cibernética e o risco cibernético representam riscos significativos para as pessoas, empresas e o setor de seguros em particular. 
Gabriel Bernardino
na 3ª Annual FinTech and Regulation Conference, a 26 de Fevereiro de 2019,em Bruxelas.


Os desafios na Insurtech, Telemática e Ciber-risco

Miguel Mamede, International Account Manager, faz uma análise aos desafios das seguradoras nestas três áreas.

Insurtech
Desafios
Criar condições para um desenvolvimento mais acelerado, especialmente no suporte a ideias early stage. Desenvolver uma cultura de empreendedorismo, que não condena o fracasso, mas sim que o vê como uma forma de aprendizagem no processo de desenvolvimento de ideias e negócios.

Boas práticas
Na Europa existem bons exemplos de mercados onde esta cultura é estimulada, por exemplo, na Alemanha, onde o ecossistema insurtech é dinamizado pelos principais players do mercado, como é o caso da Allianz, que através da sua subsidiária Allianz X criou um fundo de mil milhões de euros para o desenvolvimento do negócio digital.

Telemática
Desafios
Do ponto de vista tecnológico, a capacidade para inovar permanentemente na oferta, suportada no desenvolvimento do mercado dos wearables e outros aparelhos conectados. Pelo lado do desenvolvimento de negócio, persistir na evangelização do mercado, para uma realidade que irá afetar positivamente as operações de seguros, bem como o nível de interação com os clientes. Finalmente a maior ou menor adesão a estas soluções passa pelo investimento das seguradoras na estruturação dos seus recursos alocados à gestão de um produto UBI, que carece de uma definição e uma aposta clara na diferenciação face ao restante leque de oferta.

Boas práticas
O grau de maturidade destas soluções pode ser confirmado, quando uma seguradora nasce unicamente suportada num produto, cujo único interface com os clientes é uma app suportada em telemática. A Root Car Insurance é o exemplo de que o futuro da telemática está bem presente.

Ciber-riscos
Desafios
O maior desafio nos ciber-riscos passa pelo despertar do mercado para esta ameaça latente. Do ponto de vista de subscrição, as seguradoras devem procurar estabelecer parcerias para que o ato de aceitação de risco não se limite ao preenchimento de um questionário estático, mas que seja um produto cujo determinação da maior ou menor gravidade se suporte na avaliação em tempo real da evolução do risco.

Finalmente, a gestão de sinistros é outro desafio para as seguradoras cujo custo de incorporar competências para a regularização deverá ser ponderada por oposição à terceirização destes serviços. 

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